Quantcast
Channel: Democracia em Portugal?
Viewing all 637 articles
Browse latest View live

Transcrições das escutas da "Operação Marquês" - "Pá, eu pago tudo o que for preciso, carago!..."

$
0
0








Imagem do Kaos





Do CD 25 e 26, da série "collector's prize" do procurador Rosário Teixeira

(1.30 da manhã, toca o telefone Louis XVI, na Avenue du Président Wilson)



R.P.S. - 'tou, Zé?...

Zé - 'tou, que número é este?

R.P.S. - Sou eu, Zé, o Rui...

Zé - Qual Rui?...

R.P.S. - O Rui, carago!...

Zé - O Rui, com este número?... Mudaste de número?!...

R.P.S. - Mudei, pá, sou do Porto, o pessoal do Porto anda sempre a mudar de número, não sabes?... (risos) Os gajos "andêm" ai, carago, o Jorge Nuno a primeira coisa que me ensinou, quando eu fui para o clube, foi mudar de número, pá..., ter vários números, rodar, de mês a mês, para os gajos não criarem vícios... (risos) E tu 'tás bem, Zé?... O Carlitos disse que estavas a precisar de trocar uns bafos comigo... (pausa) Pá, aqui estou, sou todo "óvidos", chuta!...

Zé - Pá, eu hoje não posso estar muito tempo ao telefone, as gajas estão quase a chegar...

R.P.S. - Quais gajas?... Tu agora recebes gajas?...

Zé - (pausa) A "condessa" deve estar a chegar de Zurique, e eu não quero estar com isto na mão e no ouvido, quando ela chegar...

R.P.S. - Tu e as condessas, carago, os jornais agora andam cheios de condessas, é?... (risos)

Zé - Não é essa, pá..., esta vem da Suíça..., é a outra, e deve estar quase a chegar, o Perna foi buscá-la ao aeroporto...

R.P.S. - Olha, é assim, eu não vou demorar, o Carlos disse que até era uma boa, de aqui a dois anos, quando o espantalho for de cana, ou internado, empurrar-te para Belém, não sei se é isto, mas é mais ou menos, ou, se não é, desembucha, carago!...

Zé - Pá, Rui, isso ainda são conversas muito no ar, um gajo solta uma ideia assim..., o Carlos faz logo crescer tudo, parece um enredo, esse gajo adora teatradas.... pá, eu ainda não sei nada..., o que eu sei é que os gajos queriam compor um cenário, a narrativa política pode-se construir depois, eu não sou muito da linha do Chamuça, mas o gajo até pode estudar a coisa, quando "houverem" eleições e ele ganhar, ficam com o Governo e depois com a Presidência da Assembleia... para aí é mais simples... o resto ainda não...

R.P.S - Mais simples?...

Zé- Sim, parece que para a Assembleia da República vão querer o "Chuvas Douradas"

R.P.S. - Mas o "Chuvas Douradas" não tinha ficado queimado no "Casa Piae no "'tou-me a cagar para o segredo de justiça"?...

Zé - Pá, nós estamos em Portugal, em Portugal um gajo chamusca-se um coche, mas depois volta tudo ao mesmo, parece que não sabes, olha o Portas, em Portugal, nunca ninguém fica definitivamente queimado, também o Monhé se queimou, mas depois pôs-se de pé, e eu... também diziam que eu já me tinha queimado de vez..., queimado o tanas, eu depois fiz subir em força os foguetes nos comentários daquela porra da televisão, e agora, agora... quando começarem a andar à procura de um candidato para Presidente, pá... eu, mesmo sendo modesto..., eu até acho que tenho esse perfil... 

R.P.S. - Mano, eu também acho que sim, aliás, depois do algarvio, qualquer merda serve, não é?... até por que se fala que os cabrões, os fachos,  vão mesmo empurrar ou o Rui ou a Velha. O Rio está completamente queimado, daquelas merdas de Macau, é lá mais conhecido c'á potassa.... Agora a velha.... Pá, tu já uma vez ganhaste à Bruxa, não ganhastes?... Pronto, concorres e ganhas outra, não é, mano?  Ainda para mais, parece que a gaja tem aquela doença dos ossos, porra, dizem que se a empurrarem ela desfaz-se logo em pó ... (risos)

Zé - Mano, eu não sei se a Bruxa vai desta, os gajos devem querer mesmo agarrar o lugar... pá, os gajos agora vão jogar mesmo pelo seguro..., salvo seja... (risos) não vão querer andar em cenas...

R.P.S. - Deixa-te de caralhos, Zé, cenas era se empurrassem o boiola do Marcelo, esse gajo se percebe que pode perder qualquer merda agaça-se logo e foge, e eu acho que ele já perdeu muitas vezes, vezes a mais, o gajo está velho para essas cenas, gato escaldado tem medo de água fria, carago!... (pausa) O meu tio e a minha tia até aposto que curtiam ver-te Presidente, há muito tempo que não temos um dos nossos, da casa, carago, a falar de cima..., e, se a cena for... for... se a cena for livros, mano, o meu tio tem duas grandes bibliotecas, pá, uma, em Lisboa (risos) e a outra, em Nafarros, como tj sabes... (risos)

Zé - Pá, isso não sei, nós depois falamos, daqui a dois anos, quando for altura, de qualquer maneira, isto, agora, com o Carlos, foi só uma conversa, nós ainda estamos muito longe disso, eu aliás acho que não estou nem aí, pá, o que eu queria mesmo era ver se para o ano já levava daqui o mestrado e o doutoramento...

R.P.S. - Andas na Lusófona?...

Zé - Não, pá, estou em Paris, pá...

R.P.S. - E não há aí uma Lusófona?... Já sabes, Zé, se isso é uma questão de fotocópias,  eu arranjo as que forem precisas... (risos) as que tu precisares... (risos) um gajo que anda a estudar muito, como tu andas, deve ter a casa cheia de fotocópias... (risos) Pelo menos é o que dizem: os estudantes gastam uma pipa de massa em fotocópias (risos) É "Engenheiria" que tu andas a fazer, não é?...

Zé - Não, Engenharia eu já tenho, agora queria mesmo era... ou Filosofia, ou Sciences Po, o doutoramento vai mesmo ser em Sciences Po, isso eu já decidi...

R.P.S. - Sciences é aquela coisa de abrir ratos e rãs, não é?... Curtia bués essa cena, porra, quando andava na Escola do Furadouro, era só espetar e ver o sangue a espirrar, carago, aqueles bichos têm tantas peças lá dentro, como é que um gajo ia imaginar, caraças, não é?... um dia abri um, tirei tudo e joguei aquilo para o chão, as tripas e os bofes, para ver se ele corria..., não correu, estava a estrebuchar, mas acho que já estava assim... morto, ou o que era... fogo... eu até acho que, pensando bem..., essas cenas até me influenciaram a depois ir para a Noite..., o Jorge Nuno, aquelas cenas de facadas..., no fundo, os rapados do contra, os cabrões da cicatriz, são como os bichos, só que em grande... (risos) carago, nunca tinha pensado nisso... (risos) Um dia vi um todo aberto, até parece que tinha lá dentro mais peças c'um rato, 'tás a ver, nunca tinha visto tanto "instestino", pá, o gajo tinha "instestinos" até ao pescoço, foi uma cena do caralho, as gajas a saírem e a vomitarem... um charco de merda de sangue no chão, parecia uma morcela que tinha rebentado, tudo com a assinatura do dragão, o Jorge desvia os olhos, mas eu gosto de ver, curtir aquela cena a fundo..., quer dizer, quando se pode curtir e se pode ver, que no Porto as noites são escuras, carago... o Porto é um nação, um gajo aqui, é só noite, gajas e estrelas... da noite... (risos)

Zé - Em Paris não temos disso... assim...

R.P.S. - ... e quando é que tu vens ao Algarve, pá?... Quando é que tu vens ao Algarve?... Aquela merda está a bombar...

Zé - Pensei ir para o mês que vem, mas o Carlos ainda ficou de combinar, depois podemos marcar, preciso de ver na agenda quando é que o Zé vem de Inglaterra para acertar uns números...

R.P.S. - Qual Zé?... Não é o dos livros?... Esse não para, vai lançar outro, ainda gostava de saber quem os escreve...

Zé - Não, não é esse, é o Mourinho, pá, ficamos de marcar um jantar, e na volta vem logo ele e o Figo, assim arrumo tudo de uma só vez, por que eu agora queria era mesmo concentrar-me nos estudos...

R.P.S. - Mas concentras-te, pá, por que é que não te "há des" concentrar?... E, se precisares de alguma coisa, já sabes. O Carlos disse ainda que parece que querias que eu metesse uma bucha nos jornais...

Zé - Ah, sim, isso é mais ou menos no encadeamento dessa cena, pronto, eu fui para as Sciences Politiques, quer dizer, fui a duas conferências disso... Pronto, eu sei que estas coisas universitárias não é muito a tua praia, mas eu entrei nas duas conferências, eu até não sou muito estiloso em francês, pá, mas estive muito calado, como fiz na "Independente", nestas cenas, o importante é não dar muita cana, lá ao fundo, e depois, sair com o diploma (pausa) Pronto, a merda...

R.P.S. - Qual merda?...

Zé - A merda foi que depois ao fim fui ter com os gajos que estavam à frente daquela cena, e fui pedir um diploma, e os gajos disseram que aquilo não era para dar diplomas, e que devia, não percebi bem, mas acho que queriam que eu me inscrevesse... Ora, pá, inscrição... isso ia levar muito tempo...

R.P.S. - E queres que eu mande fotocópias para eles?... Eu dessas merdas não pesco boi, portanto, se eu estiver a pensar mal, tu corrige-me... portanto, no meu pensar, um gajo entra ali, vai ter com o boss, tira os livros da mala, estende os livros e diz qual é o diploma que quer, não é?... Foi isso que correu mal?... Explica-te, pá, carago, já sabes que eu sou todo "óvidos", carago!...

Zé - Pá, ia demorar muito tempo, não é bem assim, eu só queria que telefonasses para os gajos para evitar que esta cenas da bronca das conferências saia nos jornais... o "Jornal de Notícias" já liguei eu, agora...

R.P.S. - Queres que eu ligue para o "Diário de Notícias" e disfarce a voz?....

Zé - Não, esse também não é preciso... São os outros, pá, os outros é que ma andam a lixar, porra...

R.P.S. - Mas isso eu ligo e ameaço. Se eu pudesse fodia esses cabrões todos!... Se eu apanho um na "Night", ele que se cuide!...

Zé - Não, é melhor esqueceres, Rui, eu depois ligo para o Rato, os gajos arranjam a coisa...

R.P.S. - E quando é que tu vens ao Algarve?... Aquela cena está a bater, a bombar. A Quinta do Lago, carago, noites quentes, o pessoal de Angola, g'anda batida, havias de ver as brasileiras que chegaram, aquilo, qualquer dia, parece o Rio, só gajas daquelas da Bahia, muita chichinha, cabeludas em baixo, foda-se, uma gajo mete a mão, vem úmida, parece as chuvas no Pantanal (risos) no Mato Grosso... ui...

Zé - (silêncio)

R.P.S. - Os pretos vêm comer as gajas, aquelas castanhas e pintadas de louro, as brasileiras gostam todas de apanhar no cagueiro, são estimadinhas, quanto mais levaram atrás mais ficam com a fachada intacta, aquilo são só gajos com a carteira cheia de papel, brutas toras, havias de ver os gritos, saem dali todas rebentadas, (risos) parecem os ratos do laboratório... (risos)

Zé - (silêncio)

R.P.S. - ... mas do que eu gosto mesmo é das angolanas, brutas selas, uma carapinha em baixo, parece que estou a fazer festas na palha de aço (risos), foda-se, limpeza de cromados ... (risos) sempre que quero polir a aliança, meto as mãos naquelas coxas, depois levo os dedos (risos) à boca, carago, só de escrever isto já estou todo em pau, foda-se!...

Zé - (silêncio)

R.P.S. - Que foi, mano, estás tão calado... Estás aí?... (pausa) Pá, desculpa, já me esquecia dessas cenas, cada um nos seus colos..., se tu quiseres, a gente fala de outras cenas, naquela urbanização onde costuma ficar o Zé...

Zé - Qual Zé?...

R.P.S. - O Zé, o tubarão de Angola, naquele seguimento de casas é só cenas, já é a segunda vez esta semana que o chavalo de lá, o João, o que trata daquela merda quando o patrão está fora (risos) foda-se, teve de fugir pelos telhados, a judite atrás, a branca a voar, caiu o saco ao chão, parecia neve, foda-se, o que vale é que depois acaba tudo bem, o pessoal até se conhece, como é escuro e a maior parte deles é preto..., foda-se, perde-se tudo, carago, escondidos na noite, grand 'Algarve, fogo, g'andas festas, este país devia estar sempre assim, na "night"...


(Fim da escuta)




                                                (Quarteto das chuvas douradas no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e no "The Braganza Mothers")


Transcrições das escutas da "Operação Marquês" - "Agora, é só "dumping" na construção civil, e os Dragões, na Macroaxis, já vão com risco de falência de 73%... esta merda está mesmo em risco de ir pelo cano, carago..."

$
0
0







Imagem do Kaos





Do CD 56, da série "collector's prize" do procurador Rosário Teixeira

(1.00 da manhã, toca o telefone no quarto da Praia da Restinga. A Soares fêmea já está de rolos na cabeça)

R.P.S. - 'Tou... Quem fala?

C.S.S. - É o Carlos, meu sucateiro. O Zé já me telefonou a dizer que falaste para ele...

R.P.S. - Pois falei, o gajo anda meio enconado com aquela cena das presidenciais, mas acho que bem conversado, de aqui a dois anos, o gajo vai..., ele precisa daquilo..., o bichinho está lá dentro... é genético, porra (risos)

C.S.S. - E tu vais ficar aí no Algarve?

R.P.S. - Pá, a patroa está outra vez com os reumáticos, quer solzinho na coluna e nas bifanas, não é minha troncha?... (ruído de palmada nas coxas) Estás rijinha, tás!... Ai, o caralho, um gajo já não te pode tocar que tu viras-te logo!... Ó, ó, ó, p'a ela, olha a gaja a virar-se a mim!... Tá quieta, chavala, que eu estou ao telefone!... 'Tou nos negócios!... Ai, o caralho, tás a ver a gaja, parece que está aluada!... Tá quieta, só te estava a dar umas palmadas nessa cu, amanhã já vamos à praia, e vamos almoçar ao "Gigi", vamos ter com a Sunsum... Sim... tá quieta, amanhã vamos falar com a Sunsum... no "Gigi"... e a Sunsum vai trazer roupa nova que não usa, para ti... Tás a ver como gostas?... Já mias como uma gatinha, fofinha..., e esse cuzinho é todo meu, não é?... Tá quieta, que eu estou ao telefone, ai, o caraças!...

C.S.S. - Ainda estás aí?...

R.P.S. - Tou..., espera que estou a amansar esta tarzana... Tá quieta, mulher, que eu estou ao telefone, ai, esta porra... Portanto, é assim, eu agora só vou para o Norte depois do fim de semana. Amanhã temos o Mourinho, e...

C.S.S. - O Mourinho?... Então vai haver caixas de fotocópias...

R.P.S. - Vai, pois vai, há sempre, aquela merda do "Conrad" está sempre cheia, é uma verdadeira fábrica de fotocópias... (risos) Só mulatas, daquelas muy calientes, olé, olé... (pausa) Tá quieta, pá, já estás com ciúmes, caralho..., eu estou a falar de gajas, mas é em negócios, é ou não, ó Carlos?... (risos) estamos aqui ao telemóvel, a falar de negócios, não é?... (risos) Portanto, as gajas.... fogo, parece o Norte, quando chega a primavera..., não é uma brasileira que faz a primavera, uma brasileira faz uma casa de... tá quieta, pá, já te disse que estou só na palhaçada com o Carlos!... Tu levas tudo a sério, carago, alguma vez me viste com alguma brasileira?... (risos) Tá quieta, que me 'tás a arranhar!... E então acho que vamos ficar assim, portanto

C.S.S. - Por mim, amanhã tenho uma reunião com a "Abrantina", e vamos falar com o Portas e com o Machete, para ver se desbloqueiam aquela merda na Colômbia, aquilo, se der certo, é um negócio do caralho, não se pode é dar muita bandeira, senão a concorrência sabe...

R.P.S. - Isso da construção civil, tirando Angola, está mau para caralho, qualquer dia, um gajo para se safar, tem de ir especular casas de esquimós.... (risos) vamos vender gelo para o Alaska, pá, com o Zé e a mãe dele (risos)

C.S.S. - E mandas a Nanda instalar lá um canal cabo, para dar concursos aos ursos polares... (risos)

R.P.S - Aos ursos polares, carago (risos) A velha vai vender a "Sentinela" aos esquimós e a outra assinaturas do "DN", com brindes de gelados, às focas, foda-se!... (risos)

C.S.S. - Então, é assim, agora, o gajo da "Abrantina" está a puxar-me para uma cena que é a única maneira de um gajo se safar...

R.P.S. - Se é para se safar já me interessa. Conta lá, que eu sou todo "óvidos", carago!...

C.S.S. - ... faz-se como nos hipermercados, como aqueles cabrões daqueles teus amigos da Sonae, as gajas vão com o carrinho de compras, vão sempre ao cheiro das coisas baratas, desde que a etiqueta tenha o preço curto, as gajas compram qualquer coisa, e eles pagam, é o fadinho do subúrbio, as castanholas do bairro social, as goelas aos gritos e o pessoal a faturar, pergunta lá ao teu amigo..., quando fores para cima, perguntas lá ao teu amigo dos pingos doces da Polónia como é que ele se safa, mas eu digo-te já... então a cena é assim, o leite eles vendem abaixo do custo de compra, e em compensação carregam no lucro das superbocks e das sagres, o leite eles até bebem pouco, mas as grades marcham umas atrás das outras, então com os derbies, fogo, é sempre a aviar, e aquela merda, tudo somadinho... um gajo ganha sempre a dobrar, e sai tudo satisfeito, em duas tardes, deixam lá o cheque todo da reinserção social, nas caixas da Matinha, e o teu amigo Belmiro depois é só Dom Pérignons, para trás, Dom Pérignons para a frente, em Cannes (risos)

R.P.S - Essa merda é o "dumping", não é?...

C.S.S. - Acho que sim, que eu, para línguas, já sabes... língua só de vaca, estufadinha, e bem regada com uma Periquita tinta... (risos) Só sei que essa merda é o que está a dar. os gajos carregam nos pretos e nos zucas, as obras são todas a dobrar, na Matola e na Tijuca, e aqui, nas metrópoles, vão ao concurso, muito à rasquinha, muito abaixo do custo, ganham tudo, tudo!... Há aí um gajo que qualquer dia é o dono desta merda toda, parece que vão fazer o terminal dos paquetes de Lisboa ao custo de umas barracadas de Chelas, e vai ser sempre a aviar, e quem não estiver bem que se mude, um gajo tem de viver, é, ou não é?...

R.P.S. - Ganda verdade, meu

C.S.S. - Agora, esta cena está mesmo má, e quando fores para cima é melhor dizeres ao teu patrão, isto já corre lá nos meios todos, parece que está tudo a meio caminho da bancarrota...

R.P.S - Banca... quê?...

C.S.S. - É uma cena, a Macroaxis, está sempre a faturar, a faturar, para ver quem vai ao fundo primeiro..., esta merda está mesmo má, o Banif tem risco de falência de 50%, porra, parece que os gajos andam a aguentar, a aguentar, a aguentar, a disfarçar aquela merda toda, mas o risco é mesmo de uma em duas, e pode ser amanhã, depois de amanhã, pode já ser no fim de semana.... ninguém sabe...

R.P.S. - Foda-se, esta merda está mesmo má, o melhor é um gajo bazar daqui, como o Zé... Olha lá, tu conheces Paris?... Diz que aquilo é muito grande, uma cidade só de gajas... (pausa) Tá quieta, pá!... Acordaste outra vez?... Para quieta, foda-se!... Ai, o caralho...

C.S.S. - ... o problema não são os bancos... isto do lado do Futebol está tudo roto...

R.P.S - O Futebol está roto???... Alto aí, que essa cena já me interessa!... Que é que tu sabes do Futebol, por que é que o Futebol está todo roto?... Vá, pá, vá, explica-te!...

C.S.S. - Mano, nada que não se saiba, esta merda tinha de estoirar... Os pretos tomaram tudo do Sporting, e o Benfica está todo fodido, essa cena da Macroaxis já chutou com uma previsão: 50% de falir já...

R.P.S. - É bem feita, esses cabrões, é bem feita, desde o Eusébio que já se deviam ter fodido todos, só cambalachos, jogos comprados, aquilo não se sabe se é balneário, se é uma casa de putas (pausa) Olha, olha, olha esta..., está quieta!... Isto da casa de putas é um modo de dizer, aquilo não é um balnéario, é um putedo, andam todos a comer-se, foda-se... É bem feita, já devia ter sido antes!...

C.S.S. - Mas o pior nem o Benfica, são mesmo os dragões, quando fores para cima, diz lá ao teu padrinho que o risco de falência...

R.P.S. - Risco de quê???...

C.S.S. - De falência... Pá, um risco de falência, dos Dragões, de 73%..., isto a meio da tarde, a esta hora já nem sei...

R.P.S. - 73%????????... C'um caralho, isso é mau, espera que eu vou já telefonar para cima (voz off, ... Jorge Nuno, tamos fodidos, pá, tá aqui um mano, pá a falar da falência do Dragão, caralho, falência, sim, pá, são uns gajos das "metriologias", de Nova Iorque... não, não sei de onde é, mas fazem previsões, estão dizer que essa merda vai toda pelo cano... Como é que eu sei, não sei, estão-me aqui a dizer no outro telefone... Não sei, se calhar é melhor perguntar, talvez seja melhor mandar já aí uns gajos para os abafarem, sim, é melhor que essa merda não se espalhe... não sei, acho melhor ir já para cima, carago, um gajo nunca pode estar sossegado, foda-se...)

(Fim da escuta)


(Quarteto do amanhã há mais, ah,pois há, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")

Transcrições das escutas da "Operação Marquês" - "Pá, metes as folhas na gabardine do Soares, e o que não couber vem depois na mochila do Duda..."

$
0
0







Imagem do Kaos, e dedicada ao Carlos Diogo Santos, pela coragem, por outras imprevistas aventuras comuns, et... pour cause






Do CD 253, da série "collector's prize" do Juiz Carlos Alexandre


(17.30 da manhã, toca o telefone na Cela 44, Évora)



C.S.S - Posso falar?...

J.S. - Podes, pá, mas com cuidadinho...


C.S.S - Como 'tá a cena aí?


J.S. - 'Tá sombria, mas passa-se, pá, passa-se... tranquilo...

C.S.S - Tu precisas de alguma coisa?... A Sofia disse que tu andavas meio encaralhado...

J.S. - Pá, quem é que não está encaralhado, aqui fechado o dia inteiro?...E se fosse só isso, um gajo não pode estar à vontade, não pode falar, não pode comunicar. Bem basta o que basta, depois os mirones todos a toda a hora..., se eu tomar o pequeno almoço, aqueles badochas todos a olharem, a ver se tenho alguma coisa nos bolsos, porra, a marca dos sapatos, o cachecol... eu queria passar desapercebido, pá, isto não é exatamente o lugar para ter plateias, para dar entrevistas, conferências, um gajo agora precisa é mesmo de sossego...

C.S.S - Pá, de sossego, sim... mas também de resolver a vidinha. Tu viste na televisão o João a mandar a Laranjo para o caralho?... "Houve" lá, o gajo tem tudo no sítio, olhou para a gaja e disse à cara podre que ela cheirava mal, foda-se.. (risos) ah, cabrão d'um caralho, ele é cá dos nossos... (risos) havias de ver a cara da gaja, parecia que tinha levado com uma esfregona molhada naquelas trombas... (risos) O gajo é bom... E os cabrões dos jornalistas, pulhas d'um caralho, não gostam de ouvir as verdades. Ela, a perguntar aquelas merdas, e o gajo virou o focinho para ela, e disse "você chegue-se para lá, que você cheira mal!..." Não viste? Grande cena, um la feria mesmo a sério (risos) "Houve" lá, onde é que tu arranjaste aquele gajo?... Deve ter sido o primeiro que teve colhões para dizer que os jornalistas cheiravam todos mal...

J.S. - Não digas isso, que a Nanda fica fodida contigo: há os que cheiram mal e os outros, os que são nossos amigos. Acho que esse gajo ainda foi uma encomenda do tempo do Jorge...

C.S.S - Qual Jorge?...

J.S. - Pá, isso são conhecimentos do tempo de Belém, do Sampaio, não sei, o Pedro é que fez os contactos, o gajo tinha um folha pesada do tempo das FP-25, é capaz de salvar o pai da forca, até crimes de sangue ele consegue transformar em histórias da guilherme... O Jorge é que parece que o indicou, era amigo do Mortágua, das bombas...

C.S.S - O Sampaio?... A "Chorona"?... Esse gajo também está em todas, fininho, fininho, mas lá te empurrou para cima e passou um pano em cima daquela merda toda do "Casa Pia" (silêncio) Vocês, naquela altura, estavam mêmo à rasca... Andavam ou não andavam à rasca?...

J.S. - Isso já foi, pá, os gajos estavam mesmo a ver a vidinha a andar para trás, cada um nos seus colos..., os meus não metem mesmo isso, pá, como tu sabes, eu sou um gajo mais de estudos...

C.S.S - Então, é assim, a "Soufie" disse que estava com um caralho de problemas para pagar a casa de Montemor, isto já meteu o pessoal todo, é telefonemas para trás, telefonemas para a frente, e o caralho, a Tânia, a Sofia para a Mara, a Mara para Leiria... Ah, a propósito, o cheque do Francisco já foi depositado, discretamente, que estes gajos andam a controlar tudo, mas fica descansado que o cheque já foi depositado...

J.S. - Pá, agradece, quando puderes, vocês têm sido impecáveis, mas eu agora tenho de andar aqui com mais cuidado, leituras de manhã, à tarde e à noite...

C.S.S - Se o problemas são livros, eu posso ir aí levar... (risos)

J.S. - Olha, por acaso, é assim... Livros, até tenho..., queria ver era se arranjavas mais umas fotocópias dos testes do explicador do Duda, isto vai haver exames e eu e a Sofia queríamos que o puto estivesse nos conformes...

C.S.S - Mas queres que fotocópias?

J.S. - Só as dos testes do Duda. Todas as que arranjares, pá, todas as que puderes...

C.S.S - E faço como?...

J.S. - Pá, faz como puderes, mas à cautela, que os gajos andam a vigiar tudo...

C.S.S - Queres quantas, um molho de cem?...

J.S. - Traz o que puderes...

C.S.S - Vou falar com a Sofia. Vamos arranjar todas, o gajo (risos) vai fazer testes todos os dias... (risos) vai ser avaliação contínua... (risos) se o cabrão do Crato sabe disto ainda te rouba a ideia... (risos) Ah, meu sacana, quem diria que tu, aqui fechado em Évora, que tu ainda ias fazer a melhor reforma do ensino desta choldra... (risos)

J.S. - E quando é que tu trazes os testes?...

C.S.S - Olha, é assim, o cota acho que quer vir amanhã visitar-te outra vez... O gajo está mesmo apanhado, dizem que anda a identificar-se bués contigo..., chora, quando lhe falam de estares preso..., ah, caraças, os "nossos irmãos" nunca nos desiludiram...

J.S. - Pois...

C.S.S - Então, é assim, quando ele vier amanhã, podemos meter alguns testes na gabardina do avozinho (risos) acho que o vovô Soares vai pensar que são lenços para limpar o nariz... (risos) depois, para te passar aquilo para a mão, dizes que também tens a batata a pingar... (risos)

J.S. - 'Tá..., combinado... (risos)

C.S.S - ... e o resto traz o Perna. O gajo, porra, anda a odiar esta merda da publicidade, tem medo que lhe estraguem a carreira, e tem razão, isto bem visto, se não for controlado, ainda nos pode foder a vida a todos...

J.S. - ... e os testes chegam quando?...

C.S.S - Pá, já te disse que o nafarros vem amanhã, e passam muitos no bolso. Se for preciso, repete-se a visita, e vem outra vez para a semana... Quantas tu quiseres (risos), até pode vir visitar-te todos os dias... (risos) e o resto nós metemos na mochila do Duda e ele vem trazer... até acabar...

J.S. - Pá, não sei como te agradecer...

C.S.S - Mano, somos amigos, a amizade é para isto que serve...

J.S. - Eu sei, há muitos anos que conto contigo, com o Pedro, com o Man'el, pá, se não fossem vocês... (pausa)

C.S.S - Deixa lá isso para lá, pá, agora deu-te para a sentimentalidade, um gajo quando anda nestes filmes tem de deixar a sentimentalidade para o lado, ou não é?...

J.S. - Claro que é!...

C.S.S - Olha lá, se tu agora fosses um gajo livre, sei lá, como vais ser, quando a gente te tirar daí... (pausa) Escuta, posso fazer uma pergunta?...

J.S. - Claro

C.S.S - Escuta, se tu agora fosses um gajo livre..., preferias que eu te trouxesse os testes do explicador do Duda, ou... (pausa) ou... (pausa) ou... dinheiro?...

J.S. - (silêncio)

C.S.S - Zé, responde, assim na boa, na boinha mesmo...

J.S. - (silêncio)

C.S.S - Zé, escuta, 'tou eu só aqui e mais a tua mãe...

J.S. - (pausa) ... a minha mãe está aí?...

C.S.S - Sim, temos estado a discutir essas cenas dos testes. Sabes que ela sempre foi impecável em tudo, impecável, nunca disse não, e avançou sempre p'á frente... (pausa) E é por isso que eu 'tou a repetir a pergunta, Zé, se fosses um gajo normal, cá fora, com a folha limpa, um gajo pronto para avançar, para ser o nosso Presidente da República..., Zé..., um gajo com a pica toda, Zé..., escuta... vais responder?... Se yu 'tivesses na muito boa, preferias os testes do Duda, ou... money, money, money?...

J.S. - (silêncio)

C.S.S - Zé, 'tá aqui a tua mãe ao lado, tudo na boa, tranquilo, preferias os testes do explicador do Duda, ou papel do limpo?...

J.S. - (silêncio)

C.S.S - "Houve", 'tamos só nós os três, eu tu e ela... Preferias os testes, ou dinheiro?...

J.S. - (silêncio)

C.S.S - (silêncio)

J.S. - (silêncio) ... os testes

(Fim da escuta)

(Quarteto do ai, duda, duda, duda, duda a minha agulha, aduda, aduda aduda o meu dedal, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")


Lenda do Poucochinho Monhé e da Múmia Má de Boliqueime

$
0
0






Imagem do Kaos

A melhor qualidade da Democracia é a sua infinita capacidade de adaptação, por contraposição às enormes limitações, demonstradas pelos seus políticos. Sendo que esta frase constitui o lugar implícito de um ad libitum, fica para vocês declinarem os adequados corolários, e eu vou só aos que me interessam, começando pelo Quisto da Democracia, Aníbal de Boliqueime. Se fizermos um cronograma do período democrático, verificamos que há uma janela, entre 1974 e 1985, no qual se dá uma rapsódia de tendências, uma enorme panóplia de experiências, uma sucessão infantil de sucessos e fracassos, umas quantas coisas gloriosas, e outras tantas tenebrosas. Quando chega 85, chega a anomalia de Boliqueime, e cai uma cortina de cinza e silêncio sobre a experiência das agitações: Cavaco Silva foi a SIDA da Democracia, e com plena consciência e usufruto.

O resto já também sabem, e a coisa só poderia, como pode, piorar, com o seu regresso, em 2005, sendo que, dos 40 anos de Democracia em Portugal, 20 deles foram gangrenados por uma coisa que ninguém desejaria, insomne, perversa e estagnada. Tem este período a particularidade de ter constituído um para autismo nacional, já que enquanto a Europa navegava em plena Guerra Fria, nós davamo-nos ao luxo de andar a contar cravos e a fazer arruaças pelo campo; quando as trevas do reaganismo, do tatcherismo e do woytilismo caíarm sobre o Velho Continente, nós já estavamos razoavelmente adaptados, e alinhamos, com uma múmia algarvia, na paralisação das frentes hippies. Os seus eleitores andam agora a uivar, às portas do Novo Banco.

O Sr. Aníbal, "integrado (no então) actual regime político", teve a estranha coerência de continuar integrado nele, mesmo depois de extinto, e esta é a primeira manifestação de complacência da nossa democracia, a de continuar a encenar uma bolha de neomarcelismo, para que o frequentador das escolas profissionais do Antigo Regime, e doutorado por York (!) -- as bolsas da Gulbenkian pagaram tudo neste país, até isso... --, pudesse viver na ilusão de que o "antigamente" tinha continuado, e ele podia, por imprevisto milagre post mortem, vir a exercer as funções com que sonhara, no País do Cabeça de Abóbora. A coisa nada tem de extraordinária, já que ao António de Santa Comba, já depois de caído da cadeirinha, e substituído pelo Caetano, também continuaram a assegurar pseudo conselhos de ministros, para que não percebesse que o seu tempo tinha acabado. Aparentemente, esta sucessiva folga para a farsa parece assentar numa espécie de saco azul dos orçamentos, e tem um lado pietista, já que permite a grandes cadáveres viverem num estranho verão indiano do seu autismo.

O Verão Indiano de Aníbal de Boliqueime durou 20 anos, e custou demasiado caro à Democracia. Veremos o que lhe vai agora suceder.

A seguir a Aníbal, não vêm os políticos, mas, curiosamente, os comentadores políticos. Os comentadores políticos dividem-se em três espécies, os muito bons, os correntes e os maus. Como dizia Satie, esta última espécie não existe. Na verdade, o nosso ecossistema necessita de uma recalibração e qualificação da espécie: há os comentadores políticos de direita, os que acham que conseguem convencer o público de que não são de direita, os que têm dias, e os chatos de esquerda. Na cauda disto tudo, estão o Luís Delgado, o Marques "Magoo" Mendes e a Ana Gomes, quando o álcool bolsa nela, ou cretinos absolutos, como o "Dona Coisinha", Álvaro Barreto. Sobre esta fauna, curiosa, insuportável e impulsionadora de bocejos, caiu um raio, em outubro de 2015. Como atrás disse, as Legislativas de 2015 ficaram marcadas no meu coração como o último momento em que a Democracia se podia exprimir, para poder dizer ao Cancro de Boliqueime quão nefasto ele lhe tinha sido. Creio que arranjaram uma solução elegante para lhe provocar mal estar, e mostrar que a Democracia, é, de facto, mais forte do que todas as neoplasias cavacais e marianas, e é, pois é. Não vamos entrar no domínio das suposições, e imaginar que uns poderiam ter perdido por um pouco mais, e os outros ganhado por um pouco menos, a verdade é que, para grande desilusão das infeções da comunicação social, as coisas não correram como previsto. Isto, apesar de uma gloriosa última noite de injeção, a que assisti, boquiaberto: a garganta funda de Portugal, Maria João Avillez, de sotaque de barril, de um lado, e o Júdice, sinistro, do outro, a fingirem que eram os matizes do Centro, um mais de um lado, o outro, mais do outro, mas, na verdade, a carburarem o pleno das madrassas balsemânicas. Puseram-se nos bicos dos pés, embalaram as serpentes dos votantes, mas não conseguiram o prodígio das maiorias absolutas. Tiveram azar.

Como democrata, intelectual e artista, detesto as maiorias absolutas. As maiorias absolutas são a expressão parlamentar da intolerância, e o governo ostensivo da arbitrariedade, ao contrário dos jogos palatinos do entendimento, da superação e da cordialidade. Creio que se fosse necessário resumir numa frase o que me separou de Cavaco Silva, para sempre, mentiria, e diria que foi exatamente isto, e nada mais do que isto. Ao contrário dele, estou sempre desintegrado de todas as soluções políticas, e sempre à espera de que os regimes iniciem uma rota de ascensão, de modo a chegarem ao patamar elevado das nossas reflexões. Curiosamente, em outubro de 2015, o regime, depois de ter sido substantivas vezes dado como agonizante, resolveu surpreender-nos, mostrando que a Democracia estava ativa, efervescente e queria renovar-se. Não vou entrar em considerações sobre o que agora está a acontecer: António Costa, o homem do momento, está a jogar uma extraordinária cartada histórica, e, ou é bem sucedido, ou arrasta para sempre, e para um limbo indescritível, um pano inteiro do multipartidarismo. Vamos ser otimistas, e acreditar que a experiência será revitalizante: o resto são considerações humorísticas. Por um lado, as considerações do ecossistema alteraram-se: como as criancinhas foram todas obrigadas a emigrar, os comunistas já não têm que comer ao pequeno almoço, pelo que me parece igualmente arriscada uma libertação condicional do Carlos Cruz. O Bloco cumpriu o desígnio para que Guterres o criou, o de se aliar ao Partido Socialista, e ainda agora a procissão vai no adro. O resto são alianças com animais.

Poderia, e depois escreverei, como um governo que venha a integrar o Galamba, tal como aquele que integrou o Carrilho, é, por essência, uma nado morto. Enquanto durar, todavia, cumprirá o ditame da folga das costas, tal como a enuncia o ditado, e permitirá os verdadeiros aconchegos dos bastidores, como o arranque para catedrático do mestre do Galamba, o filho do Outro: o concurso está aí, e nós vamos pagá-lo, tal como pagamos as nomeações, in extremis, do Coelho da despedida. O país não mudou em nada, e não há reformas estruturais que logrem alcançar este patamar do sarro nacional: é endémico e sistémico, e só gemem os que ficam sempre de fora. Curiosamente, toda a gente dá o Aníbal como manietado, mas eu sou mais prudente. A criatura é sinistra e já deve ter percebido que a aliança de "esquerda" é um recado envenado para que ele, que julgava ir inscrever-se na História como um tempo mais pardo da Democracia, lá acabe associado a uma linha em que se dirá que teve de dar posse a um Governo dos "comunistas". Pelo que conheço das suas limitações, isso é demasiado para o seu poder de encaixe, limitado à Assembleia "Nacional", ao Dia da Raça e à Mocidade Portuguesa. Quem lhe fez isto fez-lhe muito bem feito, nem que tenha sido apenas para o folclore.

Este texto iria para o infinito, e não pode. Esta semana será gloriosamente eloquente e autodefensiva. Esta breve é apenas um esboço, e poderia estender-se por muitas outras mais. Para mim, que não estou afeto a clubismos políticos, apenas vejo o filme passar com o ar divertido das novidades. Espero que faça mossa, muita mossa, ao aleijão de Boliqueime, e lhe torne pesados os derradeiros meses do mandato. Pessoalmente, preferia que cometesse o gesto extremo de se demitir, para não dar posse a um governo contra a sua vontade, já que o cargo apenas foi ocupado para lhe fazer as vontades, mas a Democracia é demasiado poderosa, sobretudo agora, para olhar para ele com mais do que com uma reservada complacência.



(Quarteto do poucochinho monhé, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")


Daesh

$
0
0







Faz agora parte do meu currículo de lotarias negras, por jus e direito, a previsão desta guerra. Esta guerra tem, sobre tantas outras, a virtude de ter tido uma demasiado longa preparação, já que, a sermos minuciosamente corretos, a sua origem tem raízes nos já remotos anos 80. Os pais desta guerra são uma tríade fundamentalista, cujas caras mais conhecidas são Reagan, Tatcher e Woytila. Se nos viramos para o nosso quintal, poderemos acrescentar mais um rosto do crime, Aníbal Cavaco Silva.

A doutrina pregada por esta tríade fundamentalista, como todas as pragas religiosas, assentava num conjunto de preceitos manado dos escritos de Milton Fiedman, um profeta do XX século do Vale de Chicago. Para Friedman, os números eram importantes, e os humanos deviam adorar o seu Bezerro de Ouro, cuja adoração passava por alguns oferecerem os outros, em sacrifício, no seu altar. Friedman espalhara a sua palavra por várias planícies da América, semeando a devastação pelas terras onde instalara o seu culto. Melhor do que todos os cataclismos, devorara o Chile, e mais teria devorado, se o deixassem.

Estas pragas assentaram num princípio básico dos recursos e da Economia, a de não haver mundo suficiente para tantos homens, o que, como corolário, levou a que o mundo ficasse ao serviço de alguns, com os outros todos a ver. Creio que deram a isto o nome de Neoliberalismo, e a coisa instalou-se. Deixada a linguagem bíblica, este processo levou a uma vandalização social global, com consequências em todos os patamares de escala. Para um urbanista, como eu, a coisa ainda teve algumas sequelas particularmente curiosas, pois coincidiu com uma substituição do eixo de valores urbanos por uma emergência de novos padrões de subúrbio. Dava um longo texto a explanação deste ciclo de desertificação das cidades, com sequente aglomeração de populações em cercanias inóspitas e hostis. Paris, como Lisboa, sofreu dessa erosão, e transformou-se num lugar de passagem, a pior coisa que pode acontecer a uma urbe, o converter-se num cenário. Esta conversão em cenários marcou irreversivelmente a decadência da ideia ocidental de casa, e este declínio é fundamental neste processo, já que a ideia de que não se está no nosso território permitiu o desastre até à ultimas consequências.

Ao desastre do Fundamentalismo de Friedman juntou-se a estagnação do Pensamento de Bilderberg e o seu Fim da História, o que quer dizer que aos ostracizados da periferia, uma segregação no Espaço, se juntou a impossibilidade geracional da renovação, uma cela no Tempo. Fechados no Espaço e no Tempo, os sem destino da História passaram a ser reprimidos, e seria objeto de análise mais profunda o modo como se passou dos subúrbios de Londres, Paris e Lisboa para os desertos da Síria. Curiosamente, esta é uma guerra dos quintais, onde se vai longe limpar aquilo que, em devido tempo, se devia ter limpado perto. E sendo este um panfleto de mero posicionamento, não vai mais longe, e por aqui fica, como introdução a um texto (continua).


(Quarteto para um tempo de guerra, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")

Transcrições das Escutas da "Operação Marquês" - "O cabrão do Mão de Ferro já tem as instruções todas para ganharmos as Presidenciais, mas ainda precisamos de marcar o encontro"

$
0
0







Imagem do "Expresso"





Do CD 120, da série "collector's prize" do juiz Carlos Alexandre




(2 da manhã, toca o telefone no nº 33 da Abade Faria)


R.P.S. - 'Tou, Zé?...

Zé - 'Tou, sim. Tá tudo nos conformes?...

R.P.S. - Tudo na boa, tudo a correr como esperado, tá tudo "angolado", "cabindado", "luandado"... (risos) Que cena de ruído é essa?...

Zé - Pá, agora 'tou no jacuzzi. Queres vir cá ter?...

R.P.S. - Fogo, até parece a Fonte Luminosa, quando o monhé, o poucochinho vermelho, decide despejar uns paus para isso!... 'Tás a fazer o quê no jacuzzi a esta hora, chavalo?... A fazer a "duchinha", meu sacana?... (risos)

Zé - Duchinha faz a puta da tua tia, mano!... Quantas vezes já te disse para não andares com essas conversas de merda ao telefone?... Esse cabrão do Carlos Alexandre mandou gravar tudo, fogo, vocês não aprendem nada... Quem fica mal sou sempre eu, pá...

R.P.S. - Na boa, pá, na boa, pá, desculpa...

Zé - E mesmo que eu estivesse a fazer a "duchinha", que é que tu tinhas a ver com essa cena?... Isso são coisas da vida privada, uns fazem a duchinha e os outros não, mas essa cena é do intimo de cada um, a duchinhaé como a religião, cada um tem a sua, ou não tem..., mas não anda para aí a chatear os outros, não é?...

R.P.S. - Ó, pá, isso da religião até dava uma beca de conversa, isso antigamente era assim, agora já não é, mano, olha aqueles gajos todos que estavam no desemprego e o panilas do Coelho mandou emigrar, lembras-te dessa cena, e agora andam todos a cortar pescoços e a largar bombas lá no deserto, não tens a crença deles, és logo morto, caralho!... Foda-se, chega para lá, carago, eles agora estão ainda piores do que a tua mãe, com a "Sentinela" e o "Despertai" na mão, a falar do Fim do Mundo... O Fim do Mundo foi agora, quando tu estiveste no Governo, e nós agora estamos mas é no Depois do Fim do Mundo, meu, no Depois do Fim do Mundo, ponto final!... (risos)

Zé - ... que é, ou não é, pior do que o que antes estava, hein?... Confessa lá, pá, nós estamos ou não estamos "piores" agora?... (risos)

R.P.S. - Foda-se, há quem esteja, nós cá estamos em transição, como se diz aqui na SAD, nós estamos na evolução na continuidade. E de aqui a sete anos, nós vamos estar na vanguarda do Futebol Português!... Comigo, o Belenenses vai sempre à frente!... P'rá frente, Belenenses, p'rá frente, Belenenses, carago!...

Zé - Boa, e para quem começou lá em cima, até já vai em Belém, não é mano?... Upa, upa!... (risos)

R.P.S. - Exatamente: Belenenses..., Belém..., tás a ver a cena, Beleneneses... Belém?...

Zé - Tu és um clubista à maneira, amigo!... (risos)

R.P.S. - Um clubista?... Um clubista do caralho!... (risos) O meu clube sou eu!... E o teu clube és tu, e o nosso clube somos nós!... E sabes por que é que eu estou no Belenenses?...

Zé - Quer dizer... acho que é por causa do Futebol...

R.P.S. - Na..., mano..., frio... frio... muito frio... 

Zé - Pá, fogo, isso então não sei mesmo... Não tenho cabeça para adivinhas, estou bué stressado com isto da domiciliária...

R.P.S. - Mano, é assim: eu estou no Belenenses, já te disse, primeiro, por causa de Belém, mano, e, depois, por causa de Belém e só de Belém, mano, eu estou no Belenenses por causa de Belém, mano, e sabes por que é que eu estou no Belenenses por causa de Belém?... Eu estou no Belenenses, de Belém, por que eu estou só a pensar em Belém, e quando eu estou a pensar em Belém, mano, eu estou só a pensar em ti, mano..., a pensar em mim, e em mim, e em mim, e no Belenenses, e no Futebol Clube do Porto também, mas sobretudo em ti... Em ti, mano..., em ti... e em Belém, mano!...

Zé - Pá, eu nunca tinha pensado nisso, mas não é que até está bem visto, porra...

R.P.S. - Claro que está bem visto, mano, o pessoal só quer é o teu bem, a nossa filosofia é o teu bem, carago, e o teu bem é o nosso bem, o bem do pessoal todo que gosta de ti, do pessoal que acredita em vi, do pessoal que te apoia, que te vem visitar, que te telefona, que não se esquece de ti, que acha que tu és o maior, carago, Zé, e tu és o maior, fogo, c'um caralho, Zé, tu é o maior político de Lisboa, do Porto, de Portugal, pá, e é por causa disso que o pessoal te quer pôr agora em Belém!... Sócrates a Belém!..., Já 'tás a ver o cartaz, meu, ainda com as corzinhas todas da PaF, mas os escritos já a falarem só de ti!... Olha aqui para as minhas mãos, Zé, as letrinhas a brilharem muito, assim, nuns flashes, "Sócrates em Belém", o nosso Sócrates, em Belém, Sócrates, o presidente de todos os portugueses!...

Zé - Tá bem visto, mas achas que vou ser mesmo de todos os portugueses?...

R.P.S. - Pá, de todos e dos outros também, pá..., o fundamental é um gajo chegar lá acima, quando já lá se está, aquilo vai doucement, doucement..., com calminha..., naturalidade, como (risos) como... a "duchinha", carago... (risos)

Zé - Mas eu não sei s'agora já é o tempo ideal para isso...

R.P.S. - Pá, estas cenas só têm um tempo ideal que é quando têm de ser, e a tua candidatura a presidente tem de ser agora, e o que tem de ser tem muita força, ou não é?... O que tem de ser tem muita força, Zé, é assim que é, e é assim que sempre foi..., e... escuta... sempre assim há de ser, Zé, pá, o que tem de ser tem muita força, carago, e o Zé em Presidente é uma coisa que tem mesmo muita força, tem a força toda, Zé, e tem de ser, Zé, porra... Já "óvistes" o que anda a dizer o "Mãozinhas", o Mão de Ferro, ou não?...

Zé - Que é que diz o "Mãozinhas"?...

R.P.S. - Pá, o que diz o "Mãozinhas" é o mesmo que diz o Carlos, e diz o Seixas da Costa, e diz o Tó Morais, e diz o "Gordo", e diz o Bataglia, e diz o Zé Paulo, e diz o Carlos, e diz o Barroca, e diz o Van Dooren, e diz o Lalanda, e diz o Perna, e diz o Godinho, e diz a Bárbara, e diz também a Sofia, e diz também a Mara, e mais a Inês, e a Rita, e a Fernanda, pá, e a Sandra, a Célia, e a tua mãe, pá, tu queres mais, foda-se?!... O pessoal, todo, o pessoal todo, todinho, todos dizem o mesmo, e só não falam os que não podem falar, mano, há pessoal que agora não pode falar, pessoal que tem de estar muito calado, pá, mas esse pessoal está todo a pensar, mano, e é muito pessoal, mesmo muito pessoal..., pessoal com muita força, mano, pessoal que agora tem de estar calado, mas que está contigo, mano, pessoal que faz força, muita força, por ti, carago, pessoal que acredita em ti, pessoal que sabe que foste o único político que pôs esta merda a rodar, a faturar, a andar, o único que deu visibilidade mundial a esta choldra, pá, esta merda era um pardieiro antes de tu teres chegado ao governo, lembras-te, mano, só lama e fumaça?... Isto os gajos deviam estar todos gratos, este país devia era estar todo de joelhos, a agradecer-te, pá, devia haver um Antes de Sócrates e um Depois de Sócrates, e o Antes de Sócrates até nunca existiu, meu, carago, só o depois!... Escuta lá, eu amanhã vou pôr os gajos lá da SAD a ligarem ao Francisquinho, para porem essa merda do Antes de Sócrates e Depois de Sócrates lá no calendário, tá?... (risos)

Zé - Rui, é assim, Belém acho qu'até me fica bem, assenta bem no meu estilo de vestir, maneira de estar, sei lá, pá, eu até acho que até fiz algumas merdas por este país...

R.P.S. - Claro que fizeste merda neste país, Zé, e este país sabe disso, Zé, este país sabe disso, da merda que tu fizeste, quantos portugueses é que não vieram procurar a tua porta, pá, bater às tuas portas todas, mano, a de casa, a de Évora, pá, gente que chorava à tua porta, eu vi, Zé, foi na televisão, mas eu vi, podiam ser as nossas mães, a chorar ali, de braço no ar, cartaz no punho, pá, mulheres... mesmo gente a sério, a chorarem, pareciam refugiadas, carago, aquela gente era capaz de morrer por ti, Zé, aquela gente vai votar em ti, acredita, Zé, e vai levar muito mais gente atrás deles, acredita no que eu te estou a dizer, Zé, aquilo são só votos, Zé, muitos votos..., a multiplicar..., votos a pingar..., votos a faturar..., é só tu quereres, Zé!...

Zé - Rui, eu neste momento não sei mesmo como é que está esta porra deste país...

R.P.S. - Esta porra deste país está como sempre esteve, pá!... Tu tens é de perceber em que país é que estás, e este país 'tá na mesma há muitos séculos, mano, se tu estiveres do lado do Futebol e de Fátima, tens tudo, se estás sem o Futebol e sem Fátima, não és nada, chavalo, és um merdas, um badochas, um mete nojo, um vale nada!... Esta merda é governada por aquilo em que as cotas acreditam e por aquilo em que as cotas não acreditam, se estiveres do lado daquilo em que as cotas não acreditam, estás lixado, agora, é assim, Zé, tu estás preso há quase um ano, o pessoal chorou por ti, foi visitar-te a Évora, tu deste entrevistas, foste tratado como um senhor, estiveste dentro, mas nunca te calaram a boca, não foi, Zé?... E isso quer dizer muito, quer dizer que mesmo o pessoal que te meteu dentro acreditava em ti, tinha muito carinho por ti, achava que tu ias longe, Zé, e vais, tens é de te colocar do lado do Futebol e de Fátima, se estiveres do lado do Futebol e de Fátima, se estiveres do outro lado, não tens nada, pá, agora tu estás na maior, mano, o martírio... já pensaste, pá, esses cabrões, o Carlos Alexandre, e o outro, o Teixeira, esses gajos deram-te o martírio, fizeram de ti um mártir, tu és um mártir português, estás como a Senhora de Fátima, as velhas acreditam todas em ti, rezam por ti, pedem para seres solto, só faltou irem a Évora de joelhos e de lencinho branco, pá..., que é que tu queres mais?..., já tens Fátima contigo, agora, só te falta o Futebol, mano, e o Futebol, Zé, o Futebol sou eu!... Ainda estás com dúvidas?... Porra, não estejas, agora já não há dúvidas, o pior já passou, agora é sempre a abrir, sempre a faturar, até à Presidência!...

Zé - A cena, Rui, é que eu já ouvi que o bêbedo está a apoiar a anã...

R.P.S. - Ó, pá, a anã nem entra nas contabilidades, aquilo foi uma manobra de distração... Tu para veres a gaja tens de olhar para baixo, pá, já pensaste nisso?... Os Portugueses precisam é de um candidato como tu, para os pôr a olhar para cima, não é para baixo!... Um gajo, quando se sente queimado, deve fazer como o Berlusconi, e não desistir, e apontar para cima, sempre para cima!... Olha para o Berlusconi, pá, aquilo é que deve ser o teu exemplo, quanto mais queimado estava mais subia, o gajo dez anos sempre a abrir, só esquemas, só calotes, só gajas boas, só gajos abatidos pelas costas, e a Itália acabou?... Não, não acabou, a Itália até progrediu, p'rá frente, sempre a abrir..., o milagre italiano, Zé, o milagre italiano!... O país precisa de ti, não é da anã!... Tu já ouviste a gaja a falar?... (risos) Parece que tem um supositório na boca, foda-se, c'um caralho, um supositório enfiado p'âquela boca adentro!... (risos) Aquilo não é a duchinha, Zé, aquilo parece mais a boca da chuchinha..., é a Chuchinha Vermelha, foda-se... (risos) a gaja começa a falar, a falar, com aquele tom de aconselhamento familiar... (risos) parece aquelas gajas depressivas que se andam a automedicar, com umas g'andas olheiras, toda amarela, caralho, a boca azeda, e a cheirarem a bafio, carago, (risos) a gaja está para ali, a falar do país e parece que está a receitar aspirinas... (risos) a gaja parece um Benuron mirrado a ganir!... (risos) um gajo a querer saber de politica externa e ela põe aquelas verrugas todas para a frente e começa a dizer, muito pausada, parece que tem uma canadiana enterrada na boca, "um meio ao pequeno almoço, e um meio ao almoço, e um inteiro ao deitar..." (risos) Aquilo mete pena, pá, fogo, este país desceu muito baixo, mesmo muito baixo, que tristeza, essa gaja devia era candidatar-se à "Pharmácia Ideal da Rua dos Correeiros"... (risos), e mesmo assim nem ia ser a diretora clínica daquilo, diretora um caraças, a gaja ia mas era ser a amostra clínica da farmácia, carago... (risos) Este país é uma paródia, mano, não se pode levar nada a sério, pá, é tudo a fingir, e quanto mais se finge mais os gajos acreditam..., Zé, acredita. os gajos acreditam em tudo..., pá, tudo... eles acreditam em tudo... isto é uma paródia, carago...

Zé - Ó Rui, pá, tudo bem,  mas o problema é que não é só a anã, pá... e se a anã já foi apoiada pelo "bêbado" de Argel...

R.P.S. - Pá, o pessoal quer que esse "bêbado" s'â foda!..., o "bêbado" está todo desativado... todo queimado... todo queimadinho!... o "bêbado" já encostou às boxes, pá, já encostou, só que se esqueceram de o avisar (risos) já encostou às boxes, só que ele ainda não sabe que está todo encostado... (risos) ainda não recebeu o postalinho, a avisar... O pa´si, agora, é da gente, de ti, de mim, do Galamba, (risos) o "bêbado" está como a Amália, deixa-o andar, ele anda entretido, deixa andar, enquanto ele anda naquilo, não anda na droga, carago... (risos) E há mais, ó, Zé, tu não tens de te preocupar mesmo nada com esse caralhete, mano, por que tudo o que esse caralhete apoiou... perdeu... (risos) É, ou não é, Zé?... Tudo o que esse gajo apoiou... perdeu, mano, a começar por ele, a passar por ele, e a acabar nele, pá. Esse gajo perde sempre, mano, esse gajo o máximo que conseguiu foi meter o cabrão de Boliqueime duas vezes em Belém, mano, duas vezes, "óviste" bem, mano, duas vezes?... e o gajo não aprendeu nada, pá, nada, esse gajo não aprendeu nada, pá, esse gajo até parece que gosta de perder, carago, o gajo deve ser masoquista..., foda-se, deve ter o cérebro todo grelhado..., porra, meteu o Cavaco duas vezes em Belém, fogo, e não aprendeu, pá, o gajo não aprendeu nada, Zé!... E agora, c'um caralho, ainda vem apoiar a anã?... Deixa lá o gajo apoiar a anã, que s'â foda ele mais a anã!... Mau era se ele te apoiasse a ti, Zé, por que tu ainda perdias (risos) A gente não precisa desses apoios para nada, pá..., a gente aposta muito mais alto, muito mais forte, em pessoal com meios, meios a sério, pessoal que acredita mesmo nos seus fins, nos fins deles..., nos nossos fins, mano..., nos fins do pessoal que realmente interessa em Portugal!... A gente quer é ganhar!... É, ou não é, Zé?..

Zé - Claro que é, Rui, claro que é, mas há mais gajos em cena, para além da rodas baixas... há aquele gajo das universidades...

R.P.S. - O Nódoa?... Pá, mas isso é uma nódoa!... Isso é uma invenção do Eanes, do "fale assem", do "lá de cema", do "axo axim", esses gajos deviam estar todos na reforma, carago, parecem a brigada do cangalho, deviam estar todos nas sucatas do Godinho, mas ainda andam a arrastar-se por esta merda fora!... Esse cota é uma encomenda dessa merda da Opus Dei, para andar a fazer fretes ao de Boliqueime..., o gajo queria continuar a mama, começava no vovô Eanes e na freirinha dele, a Manuela dos aleijadinhos, borrava-se todo pelo Cavaco e pela Maria, e depois vinha agora o Nódoa, isso não era uma presidência, pá, isso era uma procissão de macas na urgência do São José!... Pá, fartos de nódoas andamos nós, foda-se, caralho!... Esses gajos precisavam é do "Vanish" tira-nódoas, com o "Vanish" essa merda saía logo toda..., ficavam no pano na primeira volta, e depois nem era preciso o "Vanish" Gold, ia mesmo com o "Vanish" barato!... (risos) Tu ouviste o gajo a dizer que já pensava como presidente?... Fogo, c'um caralho, o que eu me ri quando ouvi isso, ia-me mijando todo!... (gargalhada)  Estes gajos não se enxergam... (risos) Não se enxergam mesmo nada (risos) Vêm todos de um caralho de um poço, todos de um buraco qualquer, e depois trazem o poço dentro da cabeça, para Lisboa... Isto é o país dos gajos com um poço no lugar da cabeça... (risos) E querem chegar a presidentes?... Atrasados d'um caralho (risos) O gajo já pensava como Presidente?... (risos) Presidente sou eu, carago, presidente da SAD do Belenenses, o maior clube do Mundo, a carburar desde 1919..., exatamente, 23 de setembro de 1919, Zé, nós somos o clube do Restelo, a zona onde moram as gajas mais boas do país..., g'anda Restelo, isto é que é ser presidente, e eu sou o presidente do Belenenses e tu vais ser o Presidente de Belém e de todos os Portugueses, carago, e é já de aqui a três meses, Zé, tá no papo!... Queres apostar comigo, queres apostar?...

Zé - Mano, o problema é que o Nódoa até tem algumas ideias, no outro dia, estava numa conferência, a falar de... de... acho que era... poderes e limites da palavra presidenciável, acho...

R.P.S. - De quê?... A falar de quê?... (risos) O que é que esses gajos percebem da realidade, do país real, do país que vota?... O que ganha, neste país, é sempre aquilo em que as velhas acreditam, mano, mai' nada, só ganha aquilo em que as velhas acreditam, aquilo em que as velhas não acreditam não ganha!... Isto é muito simples, muito elementar, Zé, tu olha sempre para as velhas, tu orienta-te pelas velhas, mano, e ganhas sempre. Tudo o resto são gajos a delirar, só gajos a delirar nesta merda, o "bêbado" dizem que é por que bebe, mas esses gajos é que parece que estão sempre "bêbados", carago, isto parece um país só de "bêbados", fogo!...

Zé - O problema é que se essa filosofia pega...

R.P.S. - Filosofia, qual filosofia, Zé?... Que é essa merda da filosofia?... Quem é que anda aqui a falar de filosofia?... Filosofia é contigo, Zé!... (risos) Contigo e com o João Constâncio, o filho do outro, carago!... (risos) Vocês são muito bons em Filosofia!... Sabem muito, e até de filosofia... (risos) Vocês são uns grandes filósofos, mano (risos)... Vocês são os maiores filósofos de Portugal!... (risos) Deixa-te disso, o país não precisa de filosofias, o país precisa é de cenas reais, de gajos com tomates, de gajos em quem o pessoal acredite, Zé, de pessoal como tu, de pessoal que meta confiança, pessoal em quem o pessoal possa confiar, um gajo sério, na Presidência da República...

Zé - E o Marcelo?...

R.P.S. - Qual Marcelo?... Quem é o Marcelo, pá?... Quem é que te meteu isso do Marcelo na cabeça, mano?... Esse gajo, quando se sentir apertado, desiste logo!... Esse gajo, quando souber que tu vais concorrer... (risos) o gajo até se borra todo, o gajo tem mais medo de ti que do ISIS, do Daesh, caralho..., o gajo não suporta concorrência, é daqueles que só concorre para ganhar, quando percebe que pode perder, começa logo a escorregar, a perder o gás... O gajo não tem discurso, pá, tu já "óviste" bem o gajo a falar?... Está sempre a dizer as mesmas coisas, sempre às voltas, sempre às voltas, sempre a repetir-se, o discurso dele acaba sempre com a mesma palavra, é sempre a mesma, "PSD"..., isso do PSD já foi, pá, o pessoal, agora, as velhas, são todas do PS, estão todas de maioria de esquerda, estão todas contigo!... Tu já viste bem como o Marcelo está, esse gajo está todo tremeliques, parece a múmia de Boliqueime, mas em versão intelectual!..., a múmia tinha ataques, punha a boca em O, pá... mas esse gajo, agora, está muito pior, parece um peixe, sempre a abrir e a fechar a boca, o gajo, entre duas palavras, parece que tem de vir à tona respirar..., esse gajo já não se safa, carago..., este país parece que só consegue amanhar candidatos com defeito, porra, só doentes, 'tá tudo com tremeliques, tudo a babar-se, e é por isso que tu vais ganhar, pá, se não for à primeira, vais à segunda, os indecisos juntam-se todos à tua volta, e fazes um pleno da esquerda, e do centro, e até da direita, que há muito pessoal que ainda se lembra das manhas todas que aprendeste quando andavas na juventude da JSD, grande escola, meu cabrão de merda!... Ah, g'anda escola...

Zé - E a Marisa?...

R.P.S. - Eh, pá, isso é outro filme!... Essa gaja é muito boa, foda-se, quando vi aquele cartaz disse logo, esta gaja vai longe, e até pode ir, mas quem tratava dela era eu... (risos) Marisa com todos, fogo, essa é bué forte, pôr ali logo no cartaz que... que... aviava todos, essa gaja vai à segunda volta, acredita, aliás, se houver segunda volta, vão ser só vocês os três, tu, o Marcelo e a gaja, mas no fim ganhas sempre tu!...

Zé - O Bloco vai apoiar-me???... Sinceramente... pá...

R.P.S. - Sinceramente... Pá, é assim, eu nunca fui dessas cenas, sabes que eu só tenho dois amores na minha vida, o Futebol Clube do Porto e o Belenenses, e, agora, as manas Mortáguas, foda-se, gajas tão boas, ali é que eu dava uma geraldina, punha as duas de perna aberta, sentadas em cima de uma mesa, ajoelhava-me... fogo, até podia ser de olhos vendados, a passar a língua de uma para a outra, eu acho que ia saber bué da bem, só pelo sabor, quem era uma e outra..., e depois levava as duas à segunda volta, ai, levava, levava..., e ah, g'anda segunda volta, e elegia as duas, à segunda volta, ai, não, que não elegia, caraças... ah, carago, que até já estou de pau feito!...

Zé - (silêncio)

R.P.S. - Foda-se!... Gajas tão boas!...

Zé - (silêncio)

R.P.S. - (silêncio) 'tás aí, Zé?...

Zé - (silêncio)... sim.

R.P.S. - Então ficamos como?...

Zé - Pá, eu não tenho nada contra, mas tem de ser uma coisa segura... E faz-se como?...

R.P.S. - Primeiro, vai ser preciso juntar fotocópias, fotocópias pequenas, grandes, apontamentos, documentos, livros, aquilo, a coisa, aquilo de que tu gostas muito, robalos, vinho, tudo o que vier à mão, e depois vamos buscar as fotocópias dos testes do Duda, mandar vir do país inteiro muitas garrafas, dentro de envelopes bem fechadinhos, e com fita cola (risos) vamos fotocopiar o país inteiro, e meter tudo dentro de envelopes, bem apertadinhos (risos). A tua campanha, Zé, vai ser um sucesso. Depois, temos de escarrapachar com essa merda toda nos jornais, nas televisões, na Net, no Facebook, no Tweeter. No "Notícias" a Nanda trata dessa cena, acho, a gaja é muito boa no que faz, primeiro, low profile, depois, mais assumido, uma cena a dar a cara, assim, repetida, com força, com militância, todos os dias... Não podemos é contar com o cabrão do Balsemão, mas damos a volta por fora, o que não falta são recursos, há o Paes do Amaral e a Fatucha...

Zé - Qual Fatucha?...

R.P.S. -  A Campos Ferreira, pá, essa puta já te fez bué d'a fretes, tirou-te de muitas merdas, ainda quando eras Prime, e de certeza que te faz mais, se a gente falar com ela, a gaja é segura, e é boa para a publicidade, pá, temos é de fazer a coisa com calma, nós temos... tu tens... mano, tu tens muitos amigos, acredita, mano, tu tens muitos amigos, pessoal que te deve muita coisa, e pessoal que gosta mesmo de ti, e pessoal que gosta só por gostar... sei lá, e depois tem de se fazer o anúncio público, dás umas conferências num sítio e noutro, e depois...

Zé - ... depois... E antes do depois?...

R.P.S. - Pá, o que é que queres saber agora?...

Zé - Pá, para todos os efeitos, eu ainda estou em domiciliária...

R.P.S. - Estás agora, mas não vais estar sempre, carago!... Ou vais?... Claro que não vais, aliás, o nosso esquema é dar a volta a isso, os gajos, mesmo que tivessem alguma coisa contra ti, e não têm, pá, acredita que esta merda vai dar toda em nada, não te esqueças de que estás em Portugal, na nossa terra, essa merda vai dar toda em nada, mas até lá tu és eleito, e ficas como o Berlusconi, com imunidade, pá, dez anos de imunidade, depois de dez anos quem é que já se lembra dessa merda toda?... Olha para o cavaco, não foi assim que o gajo se safou, enterrado até ao pescoço em merdas, no BPN, na Coelha, numa porrada de merdas, foda-se, o importante, agora é a eleição, e a domiciliária, pá... isso, isso... é uma coisa que se dá um jeito, é só um gajo querer, e dá-se um jeito, ou não é?...

Zé - Pá...

R.P.S. - Pá, não 'tejas preocupado, outra cena que tem de se fazer é calar as oposições, gente que gosta de fazer muito barulho... pá, a esses é cortar os pés antes de começarem a andar... Gajos que gostam de falar muito... a gente cala-os, arranja aí um tribunal para lhes calar a boca...

Zé - Mas um tribunal é mais complicado...

R.P.S. - É mais complicado o quê, carago, em que mundo é que tu estás?... Até parece que nasceste ontem, ó, Zé!... Os tribunais estão todos à distância de um telefonema, pá!... É o custo de uma chamada!... E se for naqueles pacotes grátis para todas as redes, ainda sai de graça...., ainda pagam!... (risos) Os gajos ainda te pagam... (risos) Temos é de telefonar para a pessoa certa!... E ficam com o bico calado para sempre!... Tem é de ser uma coisa bem feita, tipo, nem os deixar respirar, e se deixarmos essa merda bem tapada, acalmar uns quantos, a Cabrita, a Laranjo, e há esse gajo do "Sol", o Diogo Santos, esse gajo é perigoso, anda a tentar subir, já entalou o Relvas no "i", mas a gente trata dele, se for preciso, uns sapatos de betão, aliás isto não é para sempre, é só para durar meia dúzia de meses, depois, quando tu já estiveres eleito, os gajos podem ladrar à vontade, os gajos que ladrem, pá..., a ver se um gajo depois se importa, o importante é chegar lá, mas não te preocupes com isso, eu vou ver o gajo ideal para se telefonar, aliás, o ideal até era arranjar uma gaja, sim, uma gaja, as gajas são mais rijas, dão uma ordem e cai tudo logo de joelhos, é preciso é arranjar uma que tenha o rabo preso, para se mexer bem, olha..., estilo o Rangel, lembras-te?... foi só lembrar ao gajo que tinha o cuzinho a arder em Angola, a ver se o gajo não veio, muito meiguinho, comer à nossa mão... Veio, ou não veio, Zé?... (risos) Veio, ou não veio, logo, comer à nossa mão?... (risos) Parecia um passarinho, foda-se... (risos)

Zé - E tu tratas disso?...

R.P.S. - Claro que trato, Zé!... Alguma vez te falhei com alguma coisa?... Diz lá, alguma vez eu te falhei com alguma coisa?... Nunca falhei, pois não, por que ia falhar agora, carago?...

Zé - Rui, é verdade, confio em ti...

R.P.S. - E depois para arrematar esta merda toda, fazemos um almoço ou um jantar de apoiantes... Na Feira Popular até era o ideal, mas essa merda está toda fechada, é pena... Deixa cá ver... Pronto, fazemos na FIL, na antiga, talvez, a antiga fica mais próxima de Belém, e encenamos essa merda, os gajos vão lá para te ver, te apoiar... e depois... é isso, vou já mandar bué de convites, chamar o pessoal todo, para novembro, sim..., novembro é o melhor..., e quando estiverem lá todos a almoçar, Zé..., assim uma cena bué da íntima..., o pessoal a almoçar, todo empolgado, todo esquentado, pá, as garrafas a abrir, só gajos a olharem para ti... e então eu dou-te um toque com o pé, debaixo da mesa... e tu pedes um minuto de silêncio, mano, tu pões aquele teu ar sério, aquela pose de estado à Henrique Santana, que o pessoal adora, agarras no Soares pela mão, o gajo está choné, mas isso ainda põe as velhas mais comovidas, mais a chorar, mais concentradas em ti, e levantas-te, e dizes assim aos gajos..., pá..., isto é uma decisão irredutível, uma decisão irrevogável... e dizes que tu te vais candidatar à Presidência da República, pá..., vão chover palmas, as velhinhas a chorar..., apoios, it's raining men, meu... e, em janeiro Zé, em janeiro, já tu estás eleito, Zé, eleito nas calmas, Zé..., na boinha, meu, na imunidade, Zé, eleito o Presidente de todos os Portugueses!...


(Fim da gravação)




(Quarteto do José Sócrates Presidente, ah, pois, Presidente de todos os Portugueses, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")





O Daesh, enquanto selfie da Decadência do Ocidente

$
0
0







Dedicado a José António Saraiva, pela proeza de conseguir manter, durante décadas, espaços de expressão plural, em pleno Fundamentalismo Lusitano



Tal como 1914, 2015, o Ano da Luz, ficará marcado pelo regresso da Guerra. O móbil é simples, e vai como uma epígrafe oscarwildeana, a de apenas darmos valor a boa reputação, só depois de a ter perdido. Só este seria um bom epitáfio para a paz na Europa, e já poderíamos seguir adiante, embora nada indique que esta guerra seja marcado por qualquer possibilidade de ir adiante, pois que, como previsto por Sun Tzu, ela estará a ser diferente, substancialmente diferente e demasiado inesperada, pois esta é a Guerra dos cavalos de tróia menos convencionais.

Na genealogia dos desastres, todas estas coisas radicam sempre muito atrás, como já as deixava adivinhar "O Ovo da Serpente", de Bergman, mas Bergman era tão só Bergman, e nós, algures mais ao lado, teríamos de nos contentar com situar a coisa um pouco depois, na década do desastre dos famigerados Anos 80. Os Anos 80, que passaram para a História como o tempo em que o Cristianismo, com balofas aspirações à universalidade, se tornou numa religião fundamentalista, na forma de uma crendice difusa. Socialmente, os valores do egoísmo marcaram o declínio do Iluminismo, e como nada disto poderia ser vivenciado por um corpo saudável, toda a década passou a padecer de uma generalizada imunodeficiência adquirida. Na altura não se percebeu, mas tínhamos acabado de mergulhar numa nova idade média.

Os protagonistas deste fracasso civilizacional, como repetidas vezes invocados, tem nomes, papéis, e lugares de decisão tragicamente bem definidos, por que esta voragem provocou milhões de mortos e a difusão generalizada da miséria. Do macro para o micro, também nós tivemos a versão caseira deste declínio, e um arrastado protagonismo de figuras politicamente miseráveis, cujo consulado, como é o caso de Cavaco Silva, agora atingem o triste ocaso.

Este período gerou legiões de suburbanos, que, um dia, resolveram marchar contra as cidades e os núcleos fragilizados da Civilização.

Se precisavam de ideias, bastaram duas ou três coisas chãs, ruminadas nas madrassas dos quatro cantos do Mundo. Pois, quando as religiões já se julgavam confinadas aos templos e ao ceticismo, João Paulo II, um piores dos rostos do crime do séc. XX, inventou o patamar da crendice, e voltou a arrastá-las pelos cabelos, para o meio do palco. Também Roma, na transição para o declínio, tinha processado as coisas assim, com o intelectualismo pagão a ser brutalmente substituído por uma religião de trazer pela rua, que entregou a civilização à barbárie. Portanto, até aqui, nada de novo, se excetuarmos ter havido, pelo meio, uma longa deriva da História. Mas esta é  História, traçada, a Ocidente, pelos três papas fundamentalistas, Woytila, Ratzinger e Bergoglio. A Oriente, a coisa não foi talhada de modo menos brando, e, no mesmo hiato temporal, vimos deslizar ayatolahs, talibans, alqaedistas e daeshistas.

Se, na euforia hippie, se perguntasse qual ia ser o lugar das crendices religiosas, quarenta anos depois, ninguém poderia adivinhar que a resposta seria triádica: será sufocante, global e decisiva.

O irónico desta guerra, vivenciada na indecência dos epígonos, Obama, Bergoglio e Merkel, é que se desenrola em duas diferentes frentes de batalha, e ainda numa terceira, que, de tão difusa, não tem frente. As duas primeiras não coincidem, embora os adversários em campo sejam os mesmos, e a coroa de glória desta guerra dos suburbanos seja ter conseguido que os dois exércitos estejam permanentemente de costas voltadas, a provocar estragos, e a nunca alcançarem vencer-se: enquanto nós insistimos em ir para a Síria soltar bombas, as verdadeiras trincheiras estão na retaguarda, nos subúrbios de todas as nossas grandes cidades.

O Daesh é um reflexo inesperado de todas as coisas que passamos décadas a varrer para debaixo da cama. O Daesh é uma imprevista selfie da mais naturalista Decadência do Ocidente.

Não é previsível o tempo de duração deste conflito, já que não se trata verdadeiramente de uma guerra, mas de uma implacável operação de extermínio: quanto mais demorarmos a percebê-lo, e a afinar a estratégia da nossa intervenção, mais o mal se disseminará. As vozes vão-se multiplicando, e são consonantes, esta invenção do Fundamentalismo teve raízes muito prosaicas, e lugares muito precisos, que convém circunscrever e intervencionar, essa Arábia Saudita, um estado islâmico inventado pelos Ingleses, há quase 100 anos.

Mais uma vez, este texto é circunstancial, e evita a grande reflexão, cujo tempo ainda não chegou. Todos os dias, essa ideologia do Daesh encontra lugar entre nós, na cobardia, na marginalidade e nos ditames do extermínio. Politicamente, as vitórias vão-se multiplicando, já que nesta guerra das selfies, vamos aproximando, pelos votos, as nossas "decisões" políticas das previsões sufocantes do Fundamentalismo, e não adianta virar as costas, pois esse modus faciendi já impera por toda a parte, e já está tragicamente instalado, um dia, degolando repórteres de guerra em Palmira; outro, bem perto de nós, como agora aconteceu, decapitando mais de cem jornalistas, nos jornais "Sol" e "i".


(Quarteto à beira do ocaso, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" em em "The Braganza Mothers")

Os últimos cem dias de Cavaco Silva, com cheiro de caril, sabor de paprika e licor de fel

$
0
0






Imagem do Kaos



O facto mais relevante da vida política portuguesa terá passado despercebido, ao espectador de Lineu, e refiro-o aqui, apenas com o carinho ditado pelas efemérides, e também por que o saber não ocupa lugar. Falo, evidentemente, dos últimos cem dias da agonia de Cavaco Silva. Para mim, talvez dos portugueses para quem a vida foi ditada pelo maior desastre daquela Democracia em que acreditei, o ocaso cronológico da estirpe de Boliqueime é importante, existencial e obsessivo. Se o mundo não acabar antes, em março de 2016, essa criatura terá sido empurrada para o limbo crepuscular de onde nunca deveria ter saído.

Como muitos sistemas estelares, a época que estamos a viver é uma era de dois sóis, um algarvio, que já está a acabar, e um prodígio estelar de Goa, que pensa estar a nascer em força. Para mim, situado nas bancadas da Terra, ambos não passam de um espetáculo, é certo, ditado pelo ágon, mas substancialmente desfasado da realidade intelectual em que me movo. Une Cavaco Silva, a António Costa, a mesma obsessão de que iriam chegar a qualquer lado, com as diferenças de que o primeiro aspirava chegar a um posto do Antigo Regime, e chegou, numa bolha temporal que a paciente Democracia consentiu, de fingir que continuava lá, enquanto o outro delira com ser o Fim da História, e assumir o lugar de condottieri do Parlamentarismo do faz de conta. Deve-se-lhe a lufada de ar fresco de ter devolvido, ou ter tentado devolver, à Assembleia, o poder de legislar, depois de décadas de caixa de ressonância de governos autoritários e dirigistas. 

Sobre Cavaco Silva, tudo, ou quase tudo já foi dito. Repito "tudo, ou quase tudo", por que ainda há mais bancos para falir, e em três meses ainda pode acontecer muita coisa. O Cavaquismo, uma coisa que minou a Liberdade, arrastou-se, grosso modo, entre 1985 e 2016, o que é muito tempo. Correspondeu ao desmantelamento da Agricultura, das Pescas e da Indústria; à ascensão do novo riquismo e da insignificância, e à proliferação das soluções locais do neo liberalismo chão. Na fase final, o seu entretimento favorito foi levar à falência bancos, e não banqueiros, e tornar o país num pântano de incredulidade.  A Islândia prendeu-os, o Cavaco medalhou-osCavaco Silva, um algarvio típico, autista e miserável, nunca percebeu que estava em Democracia, e menos ainda percebeu que tinha arruinado o país, para os próximos cem anos. A História se encarregará de o reposicionar, com palavras mais duras do que as minhas.

Cavaco Silva foi o ovo da serpente do poucochismo monhé, uma corrente local, que, depois de muitos flagelos, Portugal ainda teve de aguentar. O poucochismo monhéé uma forma de nasrcisismo equivalente à anterior, mas com manifestações mais suaves, mais up to date, e com maiores pretensões. Enquanto um foi a York sacar um doutoramento em arruinar países, o outro ficou por cá, e, entre tirar as putas do Intendente, para entregar o Intendente aos amigos, resolveu transformar o restante país num incidente camarário. A coisa é interessante, já que abalou a monotonia em que o país estagnara com Aníbal, para quem as maiorias absolutas eram um sucedâneo do monocordismo da Câmara Corporativa, e introduziu um novo paradigma, onde os ganhadores das eleições não são os mais votados, mas os arranjismos do dia seguinte, de acordo com os projetos conjugados.

Sendo a Democracia um lugar das surpresas, António Costa mostrou-se supreendente, e conseguiu surpreender-nos. Ficamos, pela primeira vez, a saber que havia um gajo em campo que, quer ganhasse, quer perdesse, ganhava sempre. Suponho que seja isto o estalinismo, enunciado na célebre forma de que o que conta não é quem vota, mas quem conta os votos. António Costa contou os votos, e não os contou sozinhos. A diferença é que o eleitor ficou a assistir à contagem, e percebeu que, doravante, devia votar de modo a que não acontecessem marés de segundo plano. Supõe-se que, esgotado o modelo político de António Costa, também nos devamos acautelar contra os perdedores da segunda fila.

Ao contrário de Cavaco, figura deplorável, desde sempre, e para sempre, não se pense que sinto o mesmo por António Costa, por que não sinto. Matematicamente falando, acho-o uma figura surpreendente de um tempo monótono, já que afastou o espetro da cardinalidade dos resultados eleitorais e introduziu um novo paradigma em rede, muito mais próximo da Teoria dos Conjuntos. Doravante não ganhará que se enumera em crescendo, mas quem melhor se reúne em grupo, e eu diria que a Democracia é mesmo isso, ou, melhor, também pode ser isso. A coisa ameaça pegar, alastrar às presidenciais, onde ninguém ganhará, mas nos arriscamos a ter um punhado de candidato fracos, muito chegados à primeira fila, e até deixar de ser portuguesa, para ser peninsular, ibérica, e por aí fora, o que ainda concederia ao António Chamuça uma maior singularidade e uma estranha oportunidade histórica. Mais uma vez, enquanto intelectual, e, portanto, incompatível com as frágeis razões da Política, remeto-me ao lugar do espectador, e limito-me a conceder-lhe o benefício do lúdico, mas com uma irremediável reprovação do ético, e quem entender estas palavras que medite bem nelas, pois são clarividentes. Como diz a voz do povo, o mestiço não serve ninguém a não ser a si próprio, com a exceção de Cavaco Silva, um reprovável mestiço de raça única, algarvia.

Após uma primeira planagem, António Costa prepara-se agora para atingir a altitude demagógica do cruzeiro, com os teclados das diferentes sensibilidades: foi erguido ao pódio pelos vencidos da linha de trás, e, agora, sempre que os derrotados da segunda fila imergirem nas suas idiossincrasias próprias, ele escolherá a razão de estado, que mais genericamente rege as correntes conservadoras. Utilizando palavras simples, governará à esquerda, sempre que puder, e encostará à direita, quando tal convier. De um certo ponto de vista, isto é brilhante, e eleva-o à condição de condottieri, já que transforma a tradicional oscilação das alternâncias numa mera questão de sabores, entregues aos paladares do líder único. Na essência, poderia ser uma aspiração a governar muito tempo e para sempre. Creio ser isto o lado Jabba de António Costa, mas a sua Guerra das Estrelas é muito pobre, e muito cheia de banifs, e durará tão só o tempo que durarem as efemérides e as ocorrências.

Mais surpreendente do que tudo, vai ser um cenário em que os próprios partidos do monolitismo vão poder permanecer idênticos a si mesmos. Para os incautos e nefelibatas, o Partido Comunista Português tinha, finalmente, dado o grande salto no sentido do aggiornamento, mas a verdade é que não deu: Cavaco Silva sempre se serviu a si mesmo, António Costa está a aprender como se pode servir, e o PCP continua-se a ser autofágico, através de quem calha. Geometricamente, sempre que o âmago ideológico dos neo estalinistas o leve a dar esticões de veto e de niets, cá estarão os papalvos coelhistas para o suportar, e, quando lhe convierem algumas inovações, lá embarcará na sinistra. Na essência, continuará o mesmo, já que se o povo não quer, ou não pode, mudar, muda-se o povo.

À margem disto, ou, em quarto com vista para isto, o grande mérito de António Costa será o de ter evitado um Bloco Central, através da emergência de um estranho Bloco Descentrado, e nós iremos pagar isso ao preço das inovações.

Como não é interessante perder tempo com previsões, nós vamos deixar as coisas correr, e a realidade banifar-se. Os islandeses puseram todos na prisão, mas nós somos mais modestos, e vamos contentar-nos com pôr todos cá fora, como de costume. Como dizia o outro, creio que já nem um segundo vinte e cinco de abril chegaria para limpar todos estes estorvos.

Reentro na realidade, e relembro ser este um tempo natalício, um tempo da família, daquele primo do Mourinho que deu sem secretário de estado, e lembro que nos devemos preocupar com as coisas íntimas, as coisas do coração, aquelas que verdadeiramente nos tocam, e, se muito não for pedir-vos, por favor, votem a favor da conservação, na Torre do Tombo, do formidável espólio imagético de Maria de Boliqueime, teras de fotografia, que, entre a ternura e apelo do coração, polvilharam de profundidade, de carinho e de muito engenho, estes dez anos de desastre português.

Muito boa noite, e umas festas felizes, sim, muito na graça de Deus.



(Quarteto da teoria dos conjuntos, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")

Marcelo Rebelo de Rans

$
0
0








2016 é um ano que nasce desde já em glória, pelo facto simples de que, aconteça o que acontecer, será o ano em que nos vamos livrar de Aníbal de Boliqueime. Há correntes que apontam para um livrar simples, e outras que antes apostam num livrar na generalidade; há mesmo os mais radicais, que chegam a falar de um livrar do Cavaco em profundidade, mas isso é improvável e quase impossível, já que a ligação entre o idiossincrático nacional e o sarro de boliqueime está ao nível do siamesismo incompleto das narcisas que nasceram unidas pelos falópios. Fiquemos, pois, pelo livrar simples, já que o próprio livrar na generalidade tem o que se lhe diga, e também lá iremos, um pouco mais tarde, quando lá chegarmos.

O Vacão de Boliqueime, uma coisa parda e cinza, que os vindouros virão a adorar dourar, ou ainda ensombrecer mais, conseguiu alguns dos feitos mais espantosos da Democracia, o último dos quais o de lograr degradar o seu posto de Presidente ao ponto de o tornar quase irrelevante. Assim sendo, e tanto quanto se percebe, só algumas afinações mais afinadas tiveram a coragem de dizer que a "campanha" em curso era um desastre, e é, já que, pela primeira vez na curta história do parlamentarismo restaurado, os figurantes que se apresentaram a concurso não demostravam virtude alguma e apenas um prolongado lençol de ausência de qualidadesPor outro lado, conseguiu algo de notável, o de mostrar que quem aguentou dez anos de Presidência em sede vacante poderá ainda aguentar os mais dez que agora se prefiguram.

Como não sou comentador político, posso-me permitir focar a coisa por onde bem entendo, e vamos já para uma perspetiva aritmética, posto que contar pelos dedos continua a ser a melhor defesa ancestral. Desse modo, se começarmos a folhear falanges, poderemos dividir os "candidatos" em três, se não quatro, categorias elementares: há os que vão conhecer as dezenas, os que nunca vão descolar das unidades, e aqueles que se poderão dar por muito felizes, se chegarem ao fim medidos pelas décimas. Creio que poderá ainda haver os das centésimas, mas o custo das lupas torna-os , neste momento, insignificantes, embora talvez lá passemos, se sobrar algum tecido para tais bainhas.

Comecemos, pois, pelas damas de honor desta Masque, e não preciso de as apresentar, já que diariamente se esgatanham, na sua imparável irrelevância: Maria de Belém é pequena e tem uma voz fininha, ou talvez não, é mais um timbre curto de latas, uma voz maneirinha, que, nos filmes de má captação de outrora, estava reservado às telefonistas, o dia inteiro sentadas num naperon de poltrona, com os pezinhos a abanar, e dar que dar, a dois palmos de distância de uma chauffage enferrujada. Aparentemente, ninguém sabe de onde a mulher veio, mas há uma sólida unanimidade sobre onde se irá apagar, e isso é bom, já que testemunha uma certa maturidade da nossa opinião coletiva. Com tal certeza de Opinião Pública, nada mais quero, pois, acrescentar, exceto um breve comentário musical: sendo a meã de voz contida e pouco fôlego, cantadora pouco extensa, talvez pudesse ter tido a sorte de um Walter Legge que a fizesse schwartzkopffizar, mas não teve, e vai acabar mesmo nas pastelarias, com um caniche pela trela, e uma torrada à frente, ou a fazer de guia turístico de visitas de chefes de estado a lares de velhinhos. Do outro lado, não melhor, nem pior, temos o Nódoa, uma coisa despejada dos aventais, e convictamente convencida de que vai ganhar. Continuo sem perceber o que é que ele vai ganhar, e quando e onde, mas nestas coisas, a fé é muito importante, já que continua associada a todas as curas de males desenganados, ou seja, jogando com as palavras, se o Nódoa está assim tão convicto de qualquer coisa que eu não entendo, que desagradável iria eu ser, nesta fase do campeonato, a vi-lo aquilo desenganar, não é?.... Servem, para isso, as urnas. Do lado da clínica, a coisa é mais severa, já que os doutores do gótico, quando o ouvissem falar, empurrariam, com o indicador, as lunetas para a cana do nariz, um profundo "hummm", e estava feito o diagnóstico, já que os pátios de todos os júlios de matos do planeta estão cheios destas síndromas napoleónicas. A verdade é que nunca se investiu tanto para se ser derrotado. Sei que me estão a fazer sinais, já que não esclareci qual, destes dois, incarnará a primeira e a a segunda dama, e realmente não sei, mas posso dar uma pequena pista, singularmente cínica: tudo o que o Manuel Alegre apoia perde sempre, pelo que se devem informar sobre se apoiou algum dos dois. Desconheço e ignoro, mas deverá bater certo.

A terceira dama é mais interessante, já que foi, ou ainda é -- desculpem-me a ignorância -- padre. Creio que a sua eleição corresponderia a um ensaio de transformar a presidência numa teocracia, o que seria original, e, por que não, uma experiência do "tempo novo", como diz o Nódoa, entre cilícios e aventais, a mostrar que aprendeu bem a lição do Balaguer, regurgitado pelo Hirto e Firme Eanes, outra sombra que "tarde" em desaparecer. Como não será eleito, fica o seu contributo para esta campanha penosa: é um homem que não sabe, e um padre que não crê -- ele, pecador, se confessa -- e o que não sabe vai ao ponto de não saber se a Coreia do Norte é uma ditadura. Quando, depois de Cavaco, pensamos ter batido nos mínimos, descobrimos agora que ainda faltava este mínimo dos mínimos: seria fantástico chegar a um presidente cuja geopolítica até ignorasse os sinais tintos coreanos. Edgar deve ser o nosso Donald Trump, e assim já está cumprido, e iremos, pois, passar adiante. Parece que o seu destino será, para o final do mês, depois de vir a terreno contar espingardas, ir dançar a rumba em Periscoxe, na linhagem dinástica do velho Cunhal.

A Marisa, com voz grossa, não tem qualquer estilo para dama de honor, e nem sequer sabe o que irá fazer com as suas poucas unidades, e nós ainda sabemos menos. Parece ter chegado como renovadora, mas esse pano já está irremediavelmente desgastado, e o seu estilo selfie dos cartazes não vai chegar para quaisquer veleidades e arranques mortagueiros, pelo que as suas percentagens não vão servir em nenhuma contabilidade, e muito menos na da própria. E aqui chegamos ao domínio do microscópico, com a última unidade a ser piedosamente dada ao Henrique Neto, um "engenheiro" com o mesmo nível de titularidade e diploma do de Vilar de Maçada. A partir daqui, temos de seguir na longa deriva do cómico, com um primeiro que diz ser contra a corrupção, mas soube servir bem, na Câmara do Porto, um lugar de gente séria, limpa e honrada, e um outro que se apresenta como "orador motivacional", para terminarmos num outro ainda, que deve ser mesmo finalizador, já que nem eu, nem ele, nem ninguém, sabemos sequer quem seja.

Ora, chegados a este momento, fica-nos pouco, mas fica-nos um certo modo do essencial, já que finalmente nos sobram os grandes titãs desta enorme paródia presidencial, o Tino de Rans e o Tino de Celorico de Basto. Em bom abono da verdade, há uma certa dificuldade em distingui-los, já que, para o meu ecossistema, muito egoisticamente confinado ao pendular do metro entre Roma e o Alvalade, Rans e Celorico de Basto são toponimicamente equivalentes, e não são cobertos pelo seguro nem pelo passe urbano... Eu sei que não, e... e... estão-me ali ao fundo a fazer sinais para ter cuidado com o que digo..., e... e... eu vou tentar ser mais cirúrgico: o Tino de Celorico de Basto, que agora se pretende apresentar como politicamente virgem, tem tudo menos virgindade e a sua política é demasiado extensa, perversa e antiga. Há mesmo quem diga que o Tino de Celorico incarna uma sacrossanta trindade, constituída pelo DDT Salgado, o dono disto tudo, passando pois pelo CDT de Boliqueime, o culpado disto tudo, e lá acabando no JDT de Sousa, o justificador disto tudo. Com efeito, tal como eu vos estou aqui, depois dos meus sete longos parágrafos, a sistematicamente enganar, com a coleante mentira da Escrita, também o Tino de Baixo, um sofista, ou "orador motivacional", acabado, anda, há quatro décadas, a enganar, dia após dia, semana após semana, mês após mês, o incauto espectador.

Ninguém, mais do que Marcelo Rebelo de Sousa, nas suas conversas em família do segundo marcelismo, encontrou uma permanente justificação para o permanente desastre nacional. 

Marcelo é como o Atun das cosmologias do Egito Antigo, o deus primordial, onanista, que ejacula e ejaculará todo o devir presente. Iludido na sua permanente retórica, afundado nos miasmas da sofistica, confundindo a forma e essência, verbum sine verbo, ele tornou aceitáveis todas as bancarrotas, toda a falência dos sistemas financeiro, educativo e de saúde, todo o desemprego, a iliteracia, a ignomínia cultural, o esclavagismo do trabalho, o aventalismo e o opusdeismo, o nacional porreirismo, a insolvência, a incompetência, o compadrio e a mediania, a república e até a monarquia. Todo o discurso de Marcelo não consegue ir além de uma permanente teodiceia, sempre explicadora dos sucessivos males do Mundo com uma perpétua expectativa de reencontro com um espantoso Bem inicial: à falta de uma saudosa fusão com a Ação Nacional Popular, Marcelo passa o tempo a convidar-nos para uma perpétua boda envenenada com o Centrão, e, em dias de maior enlevo e volúpia, mesmo com o mais genuíno PPD profundo. Em décadas de orfandade, ele preparou minuciosamente o retorno de um inviável segundo marcelismo. Em 40 anos de campanha, Marcelo conseguiu transformar o declínio da nacionalidade numas permanentes núpcias de Cadmo e Harmonia.

Marcelo não passa de um homem da intriga do período final do Estado Novo, entubado por azar numa Democracia de valores agonizantes.

Se o Regime tivesse continuado, talvez Marcelo tivesse alcançado um lugar invejável, mas só no sopé das montanhas dos titãs, pois, com a queda dessa parda montanha, deu consigo a andar tão só às voltas, em redor da própria cauda. Marcelo é um ator presente de um cenário desaparecido, numa peça mal interrompida, e ameaça arrastar-nos na volúpia do seu desastre. Como Cavaco, teve o azar de o regime se lhe desmoronar aos pés, justamente numa fase inicial de ascensão. Com o tempo, nem precisaram de se esforçar para subir mais, posto que a nova situação se degradara de tal modo, ao ponto de bastar avançar com os dois pés, para lhe poder passar por cima. Cavaco assim o fez, e assim nos arruinou: chegou agora a vez de Marcelo, com a diferença de que o primeiro, anestesiado pela sua doença, nem nunca percebesse o que lhe estava a acontecer, enquanto o segundo, infinitamente mais hábil e palatino, só tem agora um receio, o de que possa ganhar estas eleições, dado o estado de impotência do próprio cenário eleitoral.

Em boa verdade vos digo, este é o tempo das Rans que queriam ser Boys.

Iremos acabar com alguma dolência e musicalidade. Com alguma calma, lhe recomendamos, leitor, o bem da serenidade, e, para que não pense que o poderia, ou quereria, deixar com algum sinal de desespero, ou sem esperança, o alerto para o facto de que, mais importante do que uma primeira, ou, sequer, do que uma segunda volta, tudo se irá jogar na terceira, quando, contados os votos, e suicidadas as pequenas vaidades, que, penosamente, tivemos de ver arrastar, o vencedor, ainda mal refeito da vitória, irá assistir a um cenário do improvável, dado que, contou-me um passarinho, todos aqueles restos e sobras que vão ser as percentagens de nove destes dez candidatos, se irão coligar, para constituir uma sólida bolsa de percentagem de vencidos, capaz de derrotar qualquer vencedor. Como diria o PCP, só não se presidenciará o perdedor se não quiser, bastando, para tanto, coligar-se com os outros perdedores, e esta é a mensagem de esperança que vos quero deixar: neste "tempo novo", tempo novíssimo, só muito depois de contados os votos, e de o ganhador ter anunciado a vitória, iremos saber quem realmente triunfou, fruto desta aritmética da congeminação e da conspiração. Podem achar que estou a exagerar, mas não estou: o próprio comentador Marcelo já montou um gabinete de crise, para poder perder, caso o Marcelo Presidente tenha o azar de ganhar, já que essa vitória seria um brutal decréscimo dos seus rendimentos de "Professor", posto que, muito acima, dos 292 000 do Rey de España, parece que anda a ganhar na casa dos  385 000 €/anoPara ele, o mundo perfeito é já hoje, pardo, estático e imutável.

Se procuravam um justo retrato da decadência plutocrática do país, ele aqui está, cifrado em números, e nestes candidatos, que se confundem com a sua própria caricatura, e tudo o resto são trocos e teatradas, pelo que, em boa verdade vos digo que, assim sendo, no dia 24, será expectável, justo, e merecido, tal como previ, que o Palácio de Belém seja dignamente ocupado por um qualquer impante Tino, capaz de substituir o miserável cadáver adiado de Boliqueime, por que, depois das crises dos BPN, do BPP, do Banif e do Bes, nós precisamos de quem nos acompanhe, nestas horas de angústia da CGD, do Montepio e do BPI.

Já está perto, não está?...



(Quarteto das Rans que queriam ser Bois, no "Arrebenta Sol", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")

Os doces diplomas da nódoa

$
0
0








Com a campanha presidencial a entrar na sua période vache, não quereria deixar de vir regar aqui, com um pouco mais de gasolina, esta triste fogueira branda. Tem a eleição de 24 de janeiro o mérito de ser aquela que menos me aquece e arrefece, por ser uma eleição reprise, um triste bis das legislativas de outubro, dado que, tal como, há três meses, quando toda a gente desejava que o Coelho perdesse, sem que o Costa ganhasse, este domingo será marcado pelo mesmo vorrei e non vorrei, onde toda a gente normal, no fundo, deseja que o Marcelo perca mas o Nódoa também não ganhe.

Pronto, eu já sei que toquei no nervo da coisa, mas a ideia era mesmo tocar nesse nervo da coisa, pelo que vou continuar a sofismar, sempre orientado pelo tempo novo. Um dos sinais do tempo novo, como outubro demonstrou, é que se podia ganhar, mesmo quando se perdia. Há umas vozes negativas que defendem que o Costa já tinha a golpada toda combinada com os seus parceiros da "esquerda", e que ganharia sempre, mesmo que perdesse. Há uma certa melancolia nesta análise, é certo, mas eu vou acreditar em que também temos o direito de ser melancólicos, e tentar perceber como é que este tempo novo poderá permitir que o grande perdedor de 24 de janeiro, lá para a madrugada de 25, já se possa apresentar como vencedor.

Por uma redução ab absurdo, temos de tentar entender quem poderia ganhar, caso o Marcelo de Rans perdesse, e há uma certa frieza lógica que nos leva imediatamente a excluir os candidatos da coisa coitada, e vou agora à página da Comissão Nacional de Eleições, muito bem comportadinho, para lhes tentar retirar os nomes, já que estou como a História, que brevemente os vai devorar, e os não sei sequer de cor. Risquemos, pois, aqueles que o tempo novo já declarou como vencidos: Paulo Morais, Henrique Neto, o Tino de Rans, Jorge Ferreira e Cândido Ferreira. Se não me engano, já despachei cinco, pelo que agora já só me falta despachar os restantes.

Edgar Silva é um caso à parte, já que, mesmo num tempo novo, e ganhando sempre o PCP, independentemente do resultado, Edgar Silva já ganhou, e dou-lhe por isso os parabéns, posto que isso me facilita a tarefa de me debruçar sobre os restantes quatro. A Marisa não me é antipática, como já deverão ter percebido, e tem a virtude de ter, na juventude, andado a pastar cabras. O texto é tão mau que se permite ter a assinatura da Câncio, e por isso aqui o evoco, com algum carinho, e pela simples oportunidade de me ter sido útil, neste tempo novo. Não creio ser um requisito, para a Presidência da República, que se tenha andado a pastar cabras, mas também não se deve excluir, por um princípio de paridade democrática, a virtude de as ter pastado, agora, ou num tempo novo. Consuetudinariamente, também Aníbal de Boliqueime o fez, no seu tempo velho, isso, e muito mais, e lá chegou, hirto e firme, pelo que Marisa Matias também já tinha direito ao seu precedente. Registamo-lo com algum brio, e fazemos o reparo de que tal se insere numa longa linhagem de políticos que vieram das brenhas e se acercaram da cidade. Marisa Matias distingue-se deles, pelo facto simples que, num tempo certo, deixou as cabras e se fez à urbe, e cansada da urbe, partiu para a Europa. Muitos fizeram menos, e limitaram-se a vir pastar cabras para a capital, quando não as continuaram, num tempo novo, a calmamente pastar numa desgastada Europa.

Maria de Belém Roseira é infinitamente mais patética, por que se insere na longa linhagem daquelas balconistas, cerzideiras e espartilheiras, do tempo antigo da minha avó, que acharam que, bastando trepar para cima do balcão e mostrar as ligas e a combinação chegavam a um patamar qualquer do vaudeville, e chegam, já que o país inteiro ora se degradou numa gigantesca palhaçada. Maria de Belém é o último Sonho de Gerôncio de Manuel Alegre, e depois disto cremos que começará a eternidade etílica. Toda ela é marcada pelo pietismo e toda ela se rege pelo princípio do à justinha, pequena, maneirinha e com algumas potencialidades. Cremos que o momento mais alto deste campanha tenha sido a sua visitação aos embaixadores, muito semelhante à chegada dos Três Reis Magos, mas em minúsculo, em que, durante alguns memoráveis minutos, enquanto o camerlengo dela repetia o erro de protocolo de dizer "o senhor embaixador de aqui, e o senhor embaixador de ali, e o senhor embaixador de acoli", em de vez de "o senhor ministro do estado tal, etc", a nossa miniatura do coração teve os ventrículos apontados para outro lugar, com todos os olhares a dirigirem-se para uma filha, muito grávida, muito empandeirada num canto da sala, onde, espojada, acariciava as curvas de uma barriga muito curva, muito inchada, de onde irá sair uma ínclita geração, para provar que, nós cá, Portugueses, num tempo novo, ainda sabemos emprenhar, e não precisamos de "refugiados" de burka alheia, para aqui virem aumentar as emissões de CO2 da atmosfera. O vídeo é memorável, e só não tem a assinatura do Manoel de Oliveira e a medalha de cavaleiro das artes do Tony Carreira, por que não calhou, e por já estarem ambos, por esta altura, demasiado mortos. Vejam, por que vale a pena. A Maria de Belém, 24 de janeiro dará um digno lugar, nalguma junta de freguesia de Lisboa, e todos nós, ela, e o Manel, ficaremos, num tempo novo, satisfeitos, com um tão generoso bem haja, e um voo tão raso dos aventais femininos.

Afastados estes horrores, ficam o Bucha e o Estica desta triste paródia. O Marcelo já levou a sua dose, e mais dose vai levar, no dia 24. Há certas correntes que defendem que o catavento está apenas a submeter-se a este vexame por vazio e vaidade, ou para provar que o país chegou a tal estado de degradação que lhe permite uma pista de aceleração, para "só ver no que dá", e, se, no dia 24 for eleito, resta-lhe ainda a oportunidade de dizer que agradece muito e não aceita. Para quem conheça o Marcelo, ele é capaz disso e até de muito mais, como se irá ver neste curioso ciclo negativo, à porta do qual, num tempo novo, estamos, e pelo qual ansiosamente esperamos.

Não por acaso, mas por premeditação, deixei para o fim o fenómeno das reitorias. Para quem pensava que tudo o que era mau, em termos dos "interesses", em Portugal, se tinha acotovelado atrás de Marcelo, ainda não tinha visto o rasto de Nóvoa: a sinistra Pilar del Rio, a par com a miserável Inês de Medeiros e o lúgubre Zé que faz falta. Não vou enumerar mais, por que já fiquei com vontade de vomitar. Gente desesperada e capaz de tudo, e de potenciar o clima, nem que, para tanto, tenham de matar o Almeida Santos, ou o Soares velho. Tanto quanto reza a sua biografia não oficial, Sampaio da Nódoa, filho da da Dona Saladina, veio de Cabeçudos, e pareceu cair dos céus, crente, cremos, de ser um novo Saladino, e creio que quem de lá o atirou de pára quedas ficou à espera de que o engolíssemos, já que nós costumamos engolir tudo e não resmungamos. Dizem que começou a instrução primária em Caminha, mas só a acabou em Nova Oeiras, pelo que ela se deve considerar extensa, não na duração, mas, porventura, na distância. É fundamental, para o país do Mourinho e do Ronaldo, que tenha passado a infância e a juventude com uma bola nos pés. Eu passei-a com Proust, Júlio Verne e Suetónio, mas creio que deve ter sido por isso que nunca me candidatarei a Presidente, nem a coisa nenhuma parecida. A parte seguinte não deixa de ser interessante, já que, em Coimbra, e matriculado em Matemática, passou o tempo entre os campos de futebol e os palcos de teatro. Quanto a estudar, omite-se o estudo e a palavra estudo... A fase seguinte já inclui os cafés, e as noitadas, e os relvados são trocados por uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, que dá razão àquelas línguas compridas que dizem que por lá passou tudo, até os elétricos.

Entre 1973 e 1976, como reza essa generosa biografia, e omitindo que houve uma revolução pelo meio, fala-se de muita animação cultural, dinamizações de cidadãos e "expressões dramáticas" (!). Curso é que não, mas curso para quê, já que se abalançou diretamente à "formação de professores"?... Percebemos, e continuamos, para 77, onde, dessa formação de professores chega às aulas de moto próprio, em Aveiro. Cansado da academia, embarca num Fiat 127, e ruma à Suíça. Ao contrário do seu padrinho Cavaco, que rumou à Figueira da Foz, no célebre Citroen que o conduziria à ruína do país, Sampaio da Nódoa vai somente a Genebra, de onde sai com um curso (?) e um pegar de empurrão para o doutoramento (!), generosamente sobre a história de (certos) professores em Portugal.

Cumpre aqui fazer uma pausa, para nos debruçarmos sobre o princípio da bola de neve, que começa do tamanho de uma noz e acaba a engolir cidades. Não nos espantará que, em 85, já alguém o tenha convidado para ser professor convidado num instituto de educação física, e que depois aterre nas famigeradas Ciências da Educação, que estão para o séc. XX como as Profecias de Nostradamus para o Nicolao Maquiavel. A partir de aí, são todos os fogos de artifício previsíveis, a agregação, a cátedra e a Sorbonne, para fazer um segundo doutoramento que tirasse as dúvidas sobre o primeiro. Sarastro empurra-o para a Reitoria, mas o Tamino só se contenta, como Carrilho, com a Unesco. 

Não sei quem redigiu esta biografia, mas é um texto notável do estilo do volátil e do generoso. Não chega a ser comovente, já que introduz os patamares do costume: há nisto uma mistura de Harry Potter com as equivalências de Miguel Relvas, e espera-se que ninguém se lembre de escrever as linhas seguintes, que, de acordo com a lógica do Avental, deverão incluir uma Presidência da República e o Bispado de Roma, para lá venerar um Ente Supremo.

Não me apetece alongar mais sobre esta evidências. Nos tempos áureos da irmandade honesta, fez-se um exercício de estilo de oferecer um Imperador aos Franceses. Os tempos são, agora, infinitamente mais modestos, entre napoleões de goa e os cavacos de fancaria. Há muita gente espantada com os novos casamentos, também chamados "ménage à trois", que incluiriam, para lá da filiação base, núpcias espúrias entre comunistas e maçonaria, entre opus deístas e estalinismo, e, mais curioso do que tudo, entre seguidores do Balaguer e seguidores do Aventalinho. Se bem pensarem, a coisa nada tem de estranho, e explicaria muitos entroncamentos, como o par Constâncio, pai e filho, mas o mais estranho assenta numa espécie de balanço da revolução de abril, onde, muito mais importante do que as descolonizações, das transformações económicas, de mentalidade, no aumento da esperança de vida ou na liberalização do costumes, o grande aggiornamento tivesse sobretudo assentado naquela coisa estranha, que foi, não o acesso de todos aos estudos, mas a democratização da concessão de diplomas, de que Sócrates e Relvas são apenas os cumes cómicos de um curioso icebergue. Na realidade, o lado mais perverso da abrilada foi a proliferação destes faz de conta académicos, que se instalaram, num tempo novo, por toda a parte e de qualquer modo. Não voltaremos a falar desta "geologia das licenciaturas", já que ela espelha e traduz toda a inquietação profunda desta sociedade doente, que, num tempo novo, vai votar no dia 24.

O 25 de abril foi tempo novo dos diplomas de secretaria.

A pena residual que tenho pela derrota de Sampaio da Nódoa é do custo que ela vai significar, em vésperas do retorno da Troika, e do desgosto que vai provocar, naqueles que tanto apostaram neste derradeiro naufrágio. Na falta de números concretos, apenas poderei dizer que os aventais ficarão um pouco mais pobres, num tempo velho, o que, curiosamente, não acontecerá com os cilícios, já que os últimos, ao contrário dos primeiros, não costumam pagar, nem sequer num tempo novo, as derrotas, sobretudo quando perdem. Temos pena: arrivederci :-)



(Quarteto das núpcias falhadas do tempo novo do cilício e do avental, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")

As Presidenciais de 2016 e os abortos do Tempo Novo

$
0
0




O PCP fez uma sondagem à boca da hóstia e perdeu. A Roseira fez uma sondagem ao gargalo do Alegre, e foi-se. O Sampaio da Nódoa fez uma sondagem à boca da Pilar del Rio e jangadou daqui para fora. O Henrique, o Jorge e o Cândido puseram-se ao espelho, e o espelho quebrou-se. Já o Morais parecia uma caricatura de si mesmo, e assim continuou, e assim vai continuar a ser. A partir daqui, podemos dizer que ganharam todos, e assim se fez o Tempo Novo, e assim sempre foi, e assim sempre haverá de ser.

Depois deste arranque de humor, vamos passar a uma análise mais fria, e científica, para esta breve não sofrer das mesmas insuficiências do "Also spach Zaratusthra", em que a coisa começa altíssimo, e depois se confunde com a cinematografia toda do Manoel de Oliveira, tirando o "Bobó" do início. E, sendo a coisa científica, passamos já aos números, para fundamentar as nossas evidências. E, assim, sendo, também poderemos aritmeticamente dizer que, nestas Presidenciais de 2016, de raquítica memória, ganharam todos os números ímpares, e, a partir daí, todos os pares começaram a perder, sendo que ímpares são, pela ordem que lhes conferiu o Inteligent Design, o Marcelo, dos cataventos, a Marisa, das manifs, e o Tino de Rans, de Rans, e pares, o Da Nódoa, a Anã e o Prete Rosso. Como diria o Woody Allen, o Tino até é par, mas lá se pôs numa posição ímpar, só para disfarçar, e disfarçou, e disfarçou muito bem, pelo que está de parabéns. Numa análise mais fina, só possível nos programas da Cristina Ferreira, o próprio Vitorino se converteu e exprimiu em números, e praticou uma comovente numerologia de pacotilha: foi o sexto de uma prole numerosa de seis filhos, vinha em sexto no boletim de voto, e, como ficou em sexto lugar, esqueceu-se de concluir que 6 e 6 e 6 até faz 666, o número da besta, que muito bem se adequa ao tempo que vivemos e ao sucedido em 24 de janeiro...

... 24 de janeiro que entra para a História como o primeiro tiro de salva da partida de Aníbal de Boliqueime, a figura que começou por degradar o papel do Governo, arrolando toda a casta de facínoras e futuros cadastrados, arruinou depois a motricidade parlamentar, com o seu camaracorporativismo das enchentes maioritárias do seu sim-sim senhor doutor, e acabou com a ruína da própria instituição presidencial, transformada num cabecismodeabóbora, sem abóboras e com cabeça ainda muito menos. No meio destas três ruínas, também teve tempo para arruinar o país inteiro, sendo que, até 9 de março, com um pouco de sorte, ainda poderemos assistir à falência de mais um banco, perdão, ao maniqueísmo de mais um balcão financeiro, dividido entre a luz do Bem e as trevas do Mal, a mostrar que em Portugal nada se eleva, nada se fale (só os escritores se podem dar ao luxo de fletir tempos verbais inusitados...), tudo se encrença, e acaba por contabilizar. A cereja em cima do bolo foi marcada por abortos e por vetar casais passivos do mesmo sexo poderem adotar os abandonados dos casais passivos do sexo oposto.

Depois disto, qualquer dos ímpares até nos seria indiferente, já que o Palácio de Belém está no mesmo estado de Fukushima, depois das fugas radioativas, e bem fez o Marcelo em refugiar-se já em Queluz, como a Lamballe se meteu um dia nas portas dos fundos do Hameau, em busca de ricos pastorinhos, embora o risco mais imediato do Marcelo seja, de facto, o Vírus da Zika, caso ele se lembre de começar a parturir microcéfalos, na Cauda da Europa, um risco iminente, depois da fuga de todos os cérebros do passosportismo. Marcelo não está no mesmo estado de degenerescência de Cavaco, mas a sua recorrente "paragem glotal", deixa antever algumas derivas pelos tiques do queixo nervoso, razoavelmente suportável, desde que não enverede por babar-se em público... Já Marisa Matias contou espingardas, e chegou aos dois dígitos, para muita dor e rancor dos que achavam que o lugar dela era o espaço deles, o evento de uma carinha larocas, um pouco prognata, mas dentro dos horizontes libidinosos de quem nunca levantou os olhos acima dos aventais e das saias rodadas pelo joelhos, dos bailes da Atalaia. A verdade é bem outra, e com o seu queixo habsburgo, tivesse a Marisa nascido no tempo de Vélasquez, e acabaria agora pintada nas paredes da Zarzuela, muito rodeada de amorosas marias de belém. Já Tino de Rans me parece ser a única pessoa capaz de defender os valores de uma certa tradição, e o único que, em 9 de março, poderia avançar para o cargo com o facho de salvar o brilhante espólio da agonizante Maria de Boliqueime, mas a História não o quis assim, e iremos, de aqui a pouco mais de um mês, assistir a mais uma queima de bibliotecas de alexandria.

Passando aos perdidos, é unânime que o PCP finalmente inaugurou o seu declínio, com os votos fiéis a fugirem em todas as direções, e um certo portugal profundo a avisar que os padres devem estar de um lado e as cassettes devem estar do outro, sob pena de as cassettes ficarem num canto, a rezar as suas missas solitárias. Igualmente esperamos que Maria de Belém encerre aquele penoso período de declínio manuelalegrista do nosso folclore, em que nos vimos forçados, pela estupidez de um cavalheiro decadente, que já não se enxerga, a ver sucessivos ciclos de eleição, e reeleição, por 5 anos, de todo o sarro conservador, por apostas erradas e quaisquer inexistências de alternativa. Na mesma ótica, também Sampaio da Nódoa, que já se sentia "a pensar como Presidente" -- pensou, e pensou mal --, vai agora regressar à Universidade, e faz bem, por que continuamos com algumas dúvidas sobre o que se passou em redor do ano de 1982.

Diz ele que estava em Genebra, entre dois despachos de reitores e ministros (aí, fadista!...) a fazer um curso concluído em dois anos, dado o "seu enorme afinco"(!)... O meu, nem com afinco, consegui eu reduzir abaixo de cinco, e cremos que, nesta ótica das cidades, nem Bolonha alcançou ser tão generosa quanto Genebra foi com ele... Como diz o burlesco João Jardim, o Nóvoa é "um Tino de Rans para académicos", e é, mas não só, pois é pior e mais profundo. Passado este pensamento ácido, convém que olhemos mesmo para a coisa bem de frente, já que a derrota do Lânguido das Reitorias não foi uma derrota qualquer, antes foi a derrota de um dos mais descarados e vergonhosos conluios de interesses da modernidade portuguesa. Talvez fosse verdade que a sua candidatura não fosse imediatamente política, nem sequer partidária, mas nem precisava de o ser, já que antes era um fenomenal casamento dos impulsos do Ente Supremo casados , à nossa frente, com os empurrões do Senhor Santo Deus, ou seja, o dernier cri das núpcias maçónicas com as trevas da Opus Dei. Desta perspetiva, o fracasso de Sampaio da Nódoa é um mero movimento de recuo das próprias defesas do eu profundo da coisa portuguesa, e de uma impossibilidade, de facto, de certas sombras se apessoarem da totalidade do cenário, através de alianças perversas, sistematicamente derrotadas. É sobre estas reiteradas recusas que o Gil e o Lourenço se deveriam debruçar, já que constituem uma matriz profunda da raiz nacional, e um incómodo ressalto, nesta terra que tudo admite e tudo suporta, contra certos contornos da maré excessiva. Na prática, o himeneu do cilício e do avental, corresponderia à estética perfeita do sufocante, com cada uma das tendências a elidir, até ao pormenor, todas as possibilidades de autonomia, com tapar a totalidade das frestas da autenticidade, um mundo de determinismo ao qual nem o próprio Marquês de Laplace se atreveria. Como Calvino, a condenação do nosso destino estaria, para sempre, determinada pelas velhas caras do "Tempo Novo". Com muito azar, também era comunista, e cumpria assim a fusão dos piores totalitarismos do tempo novo do milénio passado. Sampaio da Nódoa foi o Golem do fracasso das bodas do Cilício e do Avental, com o apadrinhamento da Santa Foice. Foi-se. Com algum desagrado da História, a velha Europa exilou-o em Santa Helena, e veremos que Santa Helena irá reservar a este rosto sombrio do "cidadão novo" e às suas metástases.


Marcelo Rebelo de Sousa é infinitamente mais complexo, já que representa um princípio de inércia, que, passando por Cavaco Silva, e assumindo agora um zénite flácido na sua pessoa, mais não é do que um monótono fluir de sucedâneos do Estado Novo, na impossibilidade de gerar novos arquétipos de sustentabilidade. Marcelo Rebelo de Sousa está para o Caetanismo como o Período Saíta está para o Império Antigo, mas com o interior virado do avesso, já que a ressonância não assenta na mimese das formas, mas muito antes na monotonia das sensibilidades. Nesta perspetiva, a vitória das luzes de Celorico de Basto está ferida de uma inevitável melancolia, já que na ótica do Estado Novo, Marcelo nunca poderia despertar mais do que sorrisos salazaristas a quaisquer aspirações presidenciais. Nem sequer, quando, com 25 anos, se punha em bicos de pés, para ser notado, num esforço de irrelevância de cartas, pelo próprio caetanismo. Nesta ótica, e por que devemos estudar o ser no seu próprio ambiente, não foi Marcelo que amadureceu, ao ponto de ascender ao lugar do qual agora virá a tomar posse, mas antes o cargo que empobreceu, ao ponto de Marcelo o poder vir hoje a ocupar. Sobre tal, nenhuma novidade, já que é o retrato latente de toda a contemporaneidade, e uma radiografia do estado das coisas: não é interessante, nem notável, mas apenas o lugar de um incontornável reparo.

Resta o Marcelo homem, na sua multiplicidade. Como bom esquizofrénico, arrastará para Belém a sua multiplicidade. Nestes recentes tempos, houve um Marcelo que se atreveu a candidatar, e mesmo um Marcelo que o impulsionou ao ponto de poder ganhar. Dia 24, vimos um outro Marcelo, o que ganhou, a citar penosamente um outro que se encontra num idêntico estado de permanente delírio, Bergoglio, o Francisquinho do Vaticano. Dia 9 de março, outro marcelo tomará posse, e vamos ver que marcelo ocupará nos dias seguintes o Palácio de Belém. Quando chegar a hora dos confrontos políticos, haverá um marcelo que decide e um marcelo que comenta, e outro, ainda, que se comenta, e mais outro, que se porá a comentar os outros dois; haverá um marcelo que afronta e um outro marcelo que desiste, um marcelo que se pavoneia e um marcelo mais perturbador, que se contentará com exibir. Não sei se este recital chegará a tornar-se alguma vez interessante, penso, antes, que deve ser assim que as civilizações colapsam, ou, porventura numa ótica mais otimista, que os cargos, pela sua progressiva irrelevância, assim se esvaziarão, ao ponto de se permitirem a epiderme deste mero espetáculo quotidiano.



(Quarteto ligeiramente pós caetanista, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")

Daesh in the sky with diamonds

$
0
0




Dedicado ao soldado Alex Pushin, que nos devolveu as primeiras flores de Palmyra




Agora que o filme está a chegar ao fim, o Obamismo nada conseguiu produzir, exceto Donald Trump. É justo, por que a eleição de Obama sempre teve um programa de marasmo previsto, e Trump é uma forma de marasmo como qualquer outra, talvez com a diferença de que mais vale um Donald Trump do que o Obamismo ter parido coisa alguma, e arriscava-se agora a chegar ao fim, deixando-nos de mãos completamente vazias.

Semelhante ao Obamismo, só a deriva, rezam os livros de História, de Jimmy Carter, fraca figura, que, na segunda metade dos anos 70, deixou o Mundo à beira de cair nas mãos do Império Soviético: nunca Moscovo chegou tão longe, com a conquista da Indochina, a queda do Negus da Abissínia, uns grupelhos vermelhos a incendiarem a Península Ibérica (então, uma "geringonça" monopartidária, para quem se lembre...), uma Grécia à beira do soviete, uns acidentes pelas Caraíbas e o Afeganistão, finalmente, onde os porcos pós estalinistas se afundaram em miséria, como todos os invasores se tinham afundado, bem antes deles. Pior do que isto, só os solavancos maoístas e os gritos de perfeição do gueto albanês. Naquele tempo, se aquilo não era o fim, então, o que seria o fim, mas mais iria haver para ver.

Graças à Apple que a versão presente é mais iPhónica, e o preto americano é uma loa bem diferente da coisa sinistra que foi Ronald Reagan. Como diria Aristóteles, a velhice está para a juventude, tal como o crepúsculo está para a manhã, e assim estará Trump para Obama, como Reagan esteve para Carter. No final disto tudo, também há, e sempre houve, um títere Putin, com esse ou outro nome. Há quem lhe chame analogia, mas eu prefiro acreditar que é bem a voz de Spengler a falar da bela Decadência do Ocidente.

O Ocidente escolheu decair de formas diversas, e algumas delas inesperadas. Roma, quando soçobrou, transformou-se num subúrbio; o Ocidente preferiu acabar numa epopeia de suburbanos, gente gira, na ótica da Teresa Guilherme, gente fatal, na ótica dos poucos, que, como eu, estamos a viver a coisa na sua inevitável literalidade.

É inevitável que voltemos a Bilderberg e ao seu programa de "normalização" pela base. Com Bilderberg, apenas tenho um ponto de contacto e uma única coincidência, a de que o Mundo está superpovoado, e superpovoado por representantes da espécie cada vez mais desinteressantes e perigosos. Infelizmente, as religiões, que se apresentam sempre como tão sábias, foram sistematicamente incapazes de girar a chave do problema, através da enunciação de um simples "não procriarás"... De aqui deriva, embora não se ouse estabelecer a conexão, que a tão falada inevitabilidade de uma geração inteira a ir ter de viver pior do que geração que a antecedeu não é mais do que uma resposta dos programadores dos figurinos do Mundo a esta cultura do enxame multiplicado num mundo despovoado de recursos. Os sensores estão todos em sintonia, e há uma lógica do senso comum que realmente conflui numa conclusão inevitável, a de que a desenfreada multiplicação da espécie humana, uma das espécies mais tóxicas do planeta, é incompatível com uma igualdade de posse dos meios. Por outras palavras, chegamos à axiomática de que já não chegaria uma Terra inteira para produzir os bens do fascínio das grandes ilusões destas massas todas.

Mais interessante do que tal evidência é se terem tornado esquivos os corolários do anterior, já que, se as coisas não chegam para todos, então, a quem chegarão, e a resposta é extraordinária, posto que se não rege por um princípio do mais apto, mas pela lógica de Bilderberg, em que sobreviverão os piores, ou para dar rostos às coisas, sobreviverão os protagonistas e finalistas dos reality shows da, e vou repetir, Teresa Guilherme.

Como já deverão ter percebido, a Teresa Guilherme é aqui completamente irrelevante, já que ela não passa de uma espécie de Wally de todas as teresas guilhermes deste mundo. Ela não é mais do que um bodisatva de um budismo perverso e imprudente, que prega o desprezo por todas a regras do mundo e um salve-se quem puder assente nas volatilidades de um corpo com uma semivida de vinte anos, e dois ou três orgasmos falhados no chuveiro. Na realidade, esta insuficiência na posse plena de todos os recursos do planeta é espantosamente resolvida numa oval forma colombiana, do já que eles não podem ter tudo, e não podem desconfiar de que tudo já não é possível que esteja na posse de todos, então dêem-lhes o onírico às postas, simplesmente, invertendo a lógica do indispensável.

Esta gente foi filha de uma gente para quem a educação, o emprego, os cuidados de saúde, o estado social, as reformas e a estabilidade na velhice eram os pilares maiores de uma aventura da finitude. A grande aposta dos sabotadores do Mundo foi diminuir-lhes a esperança de vida, acenando com as glórias do êxito fácil, e os quinze minutos de fama do Wahrol, os quais foram esticados durante meses, a baixo custo, piores expectativas, e plena intoxicação da TVI: só tatuam os braços do cotovelo até às mãos aqueles que sabem que isso vai contra uma política de certos empregos e castas, e essa mimese é própria daqueles que subliminarmente já estão a ser preparados para a exclusão. Também a saúde não é importante, por que as doenças são problemas da velhice, e a velhice é um horizonte quimérico, uma coisa de que falam os avós, avós que nós nunca seremos, mas dos quais tanto continuamos a depender, durante os curtos anos da nossa sobrevivência.

Curiosamente, e por um princípio de entropia, este empobrecimento em massa repercutiu-se a montante, afetando a geração anterior, forçada a sustentar esta massa enorme de desempregados, de desapossados do teto próprio, e nos quais é sistematicamente necessário injetar os capitais que permitem os sinais efémeros de sobrevivência: a representação social das roupas, dos eventos musicais, das discotecas, e da troca, segundo a moda, dos tablets e smartphones, e a droga, necessária à permanente anestesia. É um interminável narcisismo, afundado no vazio, na virtualidade e no combustível das substâncias. Vales e és o tamanho do teu Facebook. Tudo o resto se tornou irrelevante, e não integra a cultura da deseducação. Desde que os pais paguem, os filhos podem concentrar-se na posse dos poucos objetos que os validam na vacuidade contemporânea. Na verdade, nós não quereremos imaginar o que vão ser os filhos destes filhos, criados no caos e na precariedade, mas acreditamos que já virão dotados de um princípio de amnésia, que os fará esquecer de que as coisas nem sempre foram assim. No final disto tudo, estará uma guerra, entre os que ainda têm e os que nunca tiveram, entre os que ainda se lembram e os que já não guardam memória, e, sobretudo, entre aqueles que vivem do não esquecimento e os que sabem que o registo da memória é um incidente letal. A violência começa no estádio, e estende-se até Palmyra. E é aqui que chegamos ao ponto essencial deste texto, já que nós viemos aqui para falar de guerra.

Sendo a História perigosa para estes sistemas, é fundamental que regridamos no tempo, e regressemos à memória, ou seja, ao ponto em que, historicamente, este cenário foi manipulado, para chegar à desagregação que preparava. Não voltaremos a falar das derivas neoliberais, por que são já do senso comum, mas importa recordar que esse é o big bang do colapso presente, ditado pela irracionalidade do salve-se quem puder, mesmo que, no final, ninguém se chegue a salvar. Esse é um dos cenários de Bilderberg, ditados pela lógica do extermínio, e nós vamos alegremente nessa direção.

O princípio do empobrecimento global, que entre nós teve muitos rostos, gera imparidades crescentes, já que a lógica do pântano não é sincrónica com o afundamento de todas as camadas da sociedade. O subúrbio da exclusão, com o seu princípio de reconquista dos centros abandonados, é uma das maiores glórias desta nova idade média: começou-se por caçar os picas e acaba-se a decapitar no teatro de Palmyra.

A falácia seguinte assenta na representação, e nos valores visuais da representação, já que a lógica do subúrbio tem heráldica, uniforme e ritos: ninguém, melhor do que o neoliberalismo, importou para os cânones do visual os estigmas do novo nomadismo: as mochilinhas, os capuchinhos, os óculos escuros, as barbas a despropósito, e a mais recente estética dos pés em forma de martelinhos de cordas de pianoforte, a emergirem na ponta das calcinhas lycradas e apertadas. De aqui aos fundamentalismos das madrassas de Kandhaar e de Fahti é um passo, e este cortejo dos falhados do Ocidente, que invadiram as nossas ruas e praças, nada mais é do que um generalizado cavalo de tróia do nosso colapso civilizacional. Só se espantarão os incautos de que os servos do aeroporto de Zaventem tenham celebrado os atentados de Paris. Toda a superpopulação gera violência. Faltava-lhes ainda o enquadramento religioso, e nisso os bilderbergers falharam, já que não bastou a "geringonça" de dois papas fundamentalistas e um totó para subverter séculos de aggiornamento e laicização. Porquanto todo o empenhamento fanático e a cruzada antierótica de Woytila e Ratzinger não foram suficientes para fazer o Ocidente empolgado atravessar o limiar da jihad. Esse teria sido o cenário de guerra ideal, em que um Ocidente fundamentalizado se apropriasse dos recursos das civilizações vizinhas. Mas, como a guerra era indispensável, foi necessário, encontrar um casulo mais radical, que, impossibilitado de se encostar aos fanatismos sionistas, encontrou bom porto nas derivas ortodoxas do Islão. O Islão não é senão uma segunda escolha de cenário, falhada a tentativa do fundamentalismo cristão. Para aqueles que dizem que o Daesh é um subproduto das políticas de relaxe do capitalismo selvagem tem de se fazer o reparo de que esta gangrenosa infiltração dos tecidos sociais por elementos estranhos e radioativos é, pelo contrário, fruto dos laxismos das culturas da integração e da mestiçagem, os piores flagelos das sociedades rendidas às "geringonças", que, no limite das suas necessidades de defesa, acordam nas formas estranhas dos donalds trumps destes mundos.

Esta é uma guerra que não assenta na posse de territórios, mas na uniformização do pensamento. O seu fim final é o colapso da Democracia e o fim da herança ateniense. Brevemente, que é o hoje já, todos teremos integrado os argumentos das correntes extremistas e totalitárias como postulados elementares das nossas mesas de café. Ao nosso lado, todos os que se sentarem e não partilharem do nosso pensamento estarão ao alcance da rapidez de autos de fé tecnológicos e literais, perpetrados pelos novos escravos do precário e dos 500 €, e imediatamente publicitados no Twitter e no Instagram.

Foi esta cultura nómada da mochilinha obsessiva que nos tornou invisível o bombista suicida do metro de Lisboa. Foi esta cara tapada pelos óculos, pela barba e pelo capuchinho, que tornou o nosso vizinho do lado vizinho do militante do Daesh, encarregado de se vir fazer explodir nas rotundas do Colombo e nos saldos do El Corte Inglês. É o puro triunfo da estupidez, replicado e assistido por milhões, nas cenários da ninfómana, Teresa Guilherme, que marca a irrelevância da educação, e que permite que se tenham dinamitado os templos de Palmyra, tal como se dinamitaram os Budas afegãos. Brevemente, não haverá livros, mas apenas estádios de futebol. Sabemos que o Sr. Balsemão, como muitos, gosta disto e aplaude. Talvez goste menos, quando chegar a vez de ser a sua cabeça decapitada a decorar a capa de alguma edição extraordinária do "Expresso"...


(Quarteto da esplendorosa Tadmor-Palmyra, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")



O Daesh como lugar psicanalítico e fisiológico da decadência do Ocidente

$
0
0








Num tempo em que me não lembro bem de quando, nem onde, nem por quê, os órgãos de intoxicação social adotaram a mais errada das denominações para um recente grupo terrorista: começaram a chamar-lhe "Estado Islâmico", quando o seu verdadeiro nome era "Daesh", e não se encontrava sequer na Síria, ou no Iraque, mas um pouco por toda a parte, onde disséssemos Ocidente e Oriente, e nem sequer era uma invenção recente, mas antes uma longa construção da complacência e cumplicidade do Socialismo Fabiano com a destruição da Cultura Ocidental.

Há uma teoria da fisiopsicologia que diz que enlouqueceríamos, se fossemos forçados a dar todas as ordens necessárias ao funcionamento de todos os mecanismos automáticos do corpo. É algures, no bolbo raquidiano, que, entre outros, os processos autónomos da respiração e do bater do coração se desencadeiam. Que seria daquele organismo que tivesse de pensar, antes das sístoles e diástoles, ou de dar um  milhão de ordens para encher o peito?... Na realidade, todo este automatismo foi importado para toda a sociedade, e muitas das rotinas da nossa existência estão hoje ligadas ao seu automatismo próprio. Como já por vezes se disse, nas sociedades desenvolvidas atuais, qualquer indivíduo médio poderia seguir do nascimento à morte, apenas cumprindo regras e rotinas, sem sequer ter chegado aos lugares da Filosofia ou do divino.

Este acostumamento das coisas tem, na Natureza, um outro nome, já que pode ser aproximado, por analogia, da mimese, e a mimese é o poder de umas coisas passarem desapercebidas por outras, por mero efeito de infiltração e disfarce. O Daesh, camada sociológicas das sociedades ocidentais, estudou e pratica este princípio de mimese e de automatismo das nossas defesas e atenções. E ele não o faz de agora, fá-lo de há muito, sendo talvez o seu efeito mais espetacular o atentado às Twin Towers, onde nada deixaria prever que a imagem quotidiana do avião que cruza os céus ora anunciasse um terrível míssil contra um centro financeiro mundial. A suspeita caiu sobre os comboios, o metro, e todos os transportes. O Daesh tornou-nos todos os objetos familiares em inimigos potenciais. Tudo o resto são réplicas posteriores, as sociedade dos nómadas de ginásio e computador, dos turistas cegos, de fim de semana, em qualquer lugar barato da EasyJet, sempre com a perpétua mochila, onde o Daesh já infiltrou os seus sacos explosivos; os festivais de multidões alucinadas, de óculos escuros, por detrás dos quais o Daesh escondeu os seus últimos guerreiros suicidas; os idiotas de barba fardada, todos lançados nos concursos da ninfómana Teresa Guilherme, todos iguais, e todos ávidos de exibir sinais de virilidade compensadores da sua desvirilização física e mental, infindáveis multidões de burka maxilar, como se tivessem uma bota invertida calçada no queixo, e todos iguais àquele fundamentalista que se irá fazer explodir junto da Torre de Belém de Lisboa.

Por que, um a um, através das suas células adormecidas, o Daesh já infiltrou os hábitos, lugares e rotinas do Ocidente, tudo aquilo que fazemos sem pensar e todas as coisas que preenchem a normalidade da nossa escolha cultural, ou, por outra perspetiva, tudo aquilo que o Daesh odeia em nós, e jurou um dia exterminar. Na verdade, nós não poderemos viver a desconfiar de cada uma das coisas de que gostamos, nem passar a pensar em cada passo dado, com receio de que ele possa ser uma nova ratoeira do inimigo. O Daesh não é de hoje, é de há um tempo arcaico, e foi tendo várias faces, ao longo da História. Na nossa idade mediática, nós limitamo-nos a oferecer-lhe o próprio brinde de nem se ter de deslocar, para avaliar a eficácia do seu último atentado: a vertigem dos idiotas das "selfies", dos exibicionistas do "Facebook" e dos alucinados autistas do Twitter encarregou-se de o fazer, em tempo real, e de passar ao inimigo o máximo de informação por ele desejado. Este lado psicanalítico, em que o exibicionismo de uma sociedade malsã se cruza com o agrado voyeur dos assassinos é a verdadeira boda de sangue com os criminosos do Daesh.

É agosto, verão, e as próximas vagas de atentados estarão aí. Não sabemos se as sociedades continuam sem perceber que estão em risco final, e que o futuro breve pode ser uma multidão filhos da puta do calibre de Putin, Erdogan e Trump, a marcarem o Final dos Tempos. E até é provável que continuem sem perceber, ou que alguém, nelas, comece a ter de finalmente acordar. É verão, e é agosto, e são férias. Talvez seja tempo de perceber que estamos em guerra, e que um pouco de disciplina porventura fizesse bem, como treino de proteção das sociedades urbanas. Talvez vá chocar, mas que interessa, o enorme charme destes textos é exatamente a sua permanente capacidade de chocar. Poderíamos, assim, começar por impor uma disciplina de cara rapada, a todos os idiotas que visualmente se tornaram profetas de pacotilhas das cidades do ocidente. Seria uma mera prudência dos tempos de guerra, uma simples higiene contra o inimigo, uma lição de alerta e diferença, e um simples treino doméstico contra os infiltrados. Caras rapadas, e ordem de identificar, em cada esquina, quem não cumprisse este rapar obrigatório, uma medida breve, rápida e concisa, para dar a ver ao inimigo que assim lhe retirávamos, sem pudor, a forte arma da mimese.

Não iria hoje mais longe: podíamos aplicar esta medida, já, nos festivais de verão, em todos os lugares em que o Daesh, psicanaliticamente, não nos forçou a cancelá-los. E podíamos começar a rapar já queixos, por onde os víssemos e a respirar de alívio, da tarefa feita, e, porventura, a rezar (podem ser orações laicas, coisa de que o Ocidente bem, e tanto precisa, de ambos os lados da cortina...) e a rezar para o Daesh não se nos tivesse já adiantado, e acabássemos a rapar os queixos ensanguentados de mais um massacre no metro de Berlim.

Boas férias, leitores.




(Quarteto da mimese da morte, no "Arrebenta-SOL" (em pausa), no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")

Fábula dos filhos do Embaixador do Kebab

$
0
0





Já o disse várias vezes, e volto a repetir, perde-se demasiado tempo a combater gajos dopados nos desertos da Síria, quando mais valia que se começasse a caça ao dopado nos muitos subúrbios do Ocidente. É certo que é sempre mais fácil andar a bombardear o horizonte da aridez do que invadir apartamentos HLM, a Quinta do Mocho ou os arredores de Dusseldorf, mas essa poupança vai-nos sair demasiado caro, aliás, o vai-nos, situado num futuro próximo, é um erro de expressão, já que este estado de coisas se tornou inerente aos próprios tempos presentes.

Eu sei que é muito complicado para a Dona Arminda, de Baguim do Monte, ter de começar a acreditar que o seu filho, um puro produto de subúrbio, ainda sem o verniz postiço da Teresa Guilherme, de cada vez que lhe desampara a loja, e vai sair, para a "night" de Baguim do Monte, é como se fosse, com os amigos, treinar para as traseiras do quintal, as táticas do cinto bomba, do extermina assim e do mata e esfola como se nada fosse. Um dia houve em que ainda estava ela a ver as novelas da TVI e o gajo tinha acabado de limpar, com uma soqueira, um dos do bando da frente, a pretexto de uma disputa de uma recém menstruada. Foi na Domingos Baião, mas podia ter sido na Calçada de São Coitado à Lama, ou nos Champs Elysées, mesmo aqui ao lado. Depois, se a coisa se desenvolver como se pensa, ele pedirá desculpa, e depois de ter emigrado para os arredores, voltará a matar a 2000 quilómetros de casa. A versão dois é mais ou menos igual à versão um, só que em pacote: agarrou em veneno dos cães, e matou três gajas, duas delas das que já andavam engalfinhadas, e a terceira por que estava a tomar o gosto à coisa, e também ia embarcar no roço e começar,em Tires, a engalfinhar-se também. O homem é macho, e não pode permitir uma coisa dessas, rezou para a Meca dele, matou as sapatonas e toca a andar. A versão três é mais ou menos mais do mesmo: eram seis da manhã e o bacano teve fome, pôs-se na esquina, com aquelas saias de xadrez baratas que eles usam, por cima das calcinhas apertadas, a esconder o raquitismo e a falta de banho, e fez um voo rasante em cima do cota, era turco, só serve para o damo comer, depois de  o damo comer, mata-se. Deu-lhe com os ténis, e ficou com um bruto bife de kebab rasgado no focinho. A quarta, que me levou a escrever este texto, é mais sofisticada, por que mete os próprios filhos do embaixador do kebab anterior, e aqui o discurso muda de registo, posto que, se os campos de treino do Daesh são todos iguais, ainda é mais verdade que há uns mais iguais do que os outros, e eu passo já a explicar.

Na ascensão da insignificância, que silenciosamente levou a que cultura urbana fosse substituída pela cultura surburbana, num silencioso, mas imparável, deslizar, que passou por anas malhoas, marizas e cristianos ronaldos, os valores das coisas foram calmamente substituídos pelos valores de outras coisas, menores e insidiosas. Quando acordamos, já eles e elas estavam instalados. Fala-se de uma democratização, mas a democratização é um mau, péssimo, nome para um abandalhamento, na direção dos piores valores proletários. Os defensores de que o socialismo fabiano anunciava o advento do Neomaoismo, com uns comunisticamente muito ricos, no topo, e os outros, completamente acartuchados e acinzentados, muito no baixo, mas felizes, de mocilha às costas e smartphone nas unhas, convencidos de que andar na EasyJet é turismo, e que Lisboa se vê em três dias, dois dos quais na forma de noites de b'jecas e mijadela, de pé, contra a esquina, ou agachada atrás dos latões de metal, para depois acabar a atafulhar o metro, no meio de malões baratos e gajos de rastas, a precisar de uma boa mangueirada, dizia eu,
de
que,
os defensores deste espécie de alegria dos valores baratos, e do politicamente correto, sempre dominados por aquela voragem do Fim da História, arriscam-se agora a acabar com a própria História. O próprio motor e dinâmica das sociedades está indissoluvelmente ligado às clivagens e às diferenças de potencial, sendo certo de que uma cultura onde a entropia está no máximo já é uma cultura das águas caldas, que é o mesmo que dizer que está morta. Ora, uma cultura que está morta, precisa de se auto estimular, de modo a que a sensação das águas mornas não seja sufocante. De aí ao homicídio por que sim, e ao esmurrar até matar, por desfastio, vai um ligeiro passo, e já o demos.

Nas sequelas da podridão nacional, com o nome local de Cavaquismo e Neocavaquismo, foi moda sair da sarjeta e imediatamente colocar nas unhas das crias carro, com ou sem carta, e barraca no subúrbio, não falando, claro está, do casamento homogéneo e simplificado, com a oxigenada de coxa de pele de laranja. Este foi só um grau de entropia de arranque, e logo se esqueceram os avós do candeeiro de petróleo e das noites passadas com as cabras. Como nunca se deve servir nem a quem pediu nem a quem serviu, este estado de coisas criou uma primeira geração de quistos sociais, movidos pela ambição do ter, sem nunca ter chegado a ser, ou ter de saber. Chegada a crise, tudo isto mergulhou no cano, mas por colossais assimetrias, já que a sociedade diabólica do neoliberalismo estava definitivamente instalada. A métrica era simples, e fácil de assimilar: como isto não chega para todos, é fundamental que eu faça parte dos que têm, e que se lixem os que não, ou nada, têm. A segunda palavra é ainda mais simples: se puder ter, então, que tenha ainda mais, não venha o Diabo vir e tecê-las. O resultado disto tudo, em crescentes guerras e guerrilhas de bairro, conduziu às franjas do poder afastado e às terríveis bainhas do enormemente excluídos. Nestas bainhas teve origem o Daesh, subproduto do fundamentalismo cristão, com os adereços e apetrechos de um falso falar corânico. Os seus melhores campos de treino estão na guerra ao pica, nos aceleras da ponte, nas salas do insucesso escolar e nas drogas e rixas de discoteca.

Na verdade, esta métrica da posse, ditada pela impossibilidade, custa muito caro, e devora todos os recursos. São hoje falados os casos dos pais que são agredidos, e dos outros que se empenham e contraem empréstimos insolúveis, para que os filhos possam ter o necessário para participar na dinâmica da "night", já que, se não andares na "night" não existes, e, se lá andares, acabarás a existir ainda menos. Esta é a terra dos cristianos ronaldos, do oco e do vazio, e do extremamente caro do nível das representações.

Quem não tem estoura, e quem se cansou, ou não tem o que estoirar, põe um cinto bomba e começa a estoirar com os outros.

Claro que tudo o que escrevi atrás é mentira, e, se não for mentira, é demasiado simplificador. Na realidade, a corrente subterrânea, imediatamente sucedida ao atrás descrito, é uma coisa ainda pior, posto que, acabada a lógica do sucesso pela cultura, pelo trabalho e pela construção do eu, substituído pelo acaso, pelo errante e pela ditadura do Ego, os valores foram ainda mais subvertidos. Pelo que consta, os pais da geração de atrás já não se contentam com dar cartas de condução, mas começaram agora a pagar aulas de aviação aos nascituros. A coisa pegou, e desenvolveu mais uma daqueles subterrâneos à portuguesa, fazendo de Ponte de Sor (isso é onde?...) uma terra, não de campónios, mas de estrangeiros, a pingar fortunas. E, se tiverem menos de 18 anos, tanto melhor, já que não podem conduzir carros, mas então que pilotem aviões, o que até é normal, no país do "Pilinhas" e do quanto mais novinho melhor...

Faço aqui uma pausa, já que este é o novo mundo dos novos monstros. Eu Sou de um tempo em que em Cannes e Saint-Tropez uma geração de ouro esbanjava dinheiro, antes de embarcar nos iates mediterrânicos. Creio que então se refugiavam por detrás de grandes nomes e das fortunas dos papás. Um pouco mais de uma década, ou duas, esta subversão das escadas da ascensão, com o medíocre a ser platinado muito precocemente, lançou ao zénite a fina flor da escória, no meio de tumultos e invejas, para não falar dos muitos gemidos de impotência: estes novos milionários, perpetuamente adolescentes, com imunidades diplomáticas e outras armas nunca de antes imaginadas, criaram o futuro Mundo das Hienas, e estão-se a entredevorar, devorando-nos a nós também com eles. Brevemente os barulhos dos aceleras vão ser substituídos pelos estrondos das avionetas que caem, por que conduzidas sem brevet, ou só por vingança. No limite, o papá paga, e, se não pagar, o bacano vem à TVI, pedír desculpa.

O reverso, ou as consequências disto tudo, é que a apropriação destes meios, cada vez mais custosos e inacessíveis, leva a que a multidão dos que nada têm se multiplique. Desenganem-se os novos marx da cabidela, que aqui vêem a tempestade perfeita da insurreição: não haverá  quaisquer revoluções, mas apenas atos continuados de extermínio, de bandos de cintos bomba, a fazerem-se explodir no meio daqueles que têm a versão mais atualizada do smartphone, o meu reino por um tablet, e o matei-o, por que ele não me fez like. No campo das relações de trabalho e do tecido económico, as coisas não são melhores: a pirâmide dos empregos far-se-á em função dos que ali estão apenas para dar serventia ao pessoal das discotecas, os empregados do restaurante de antes da "night" e o turco do kebab que tem de estar ali a servir o preto longo das noites quentes das seis da manhâ. Não conseguiu comer a dama, e tem agora de se alimentar, e, se o cota não nos serve, a gente esfola o cota. Nós, pagadores de impostos, temos doravante de saber que estamos a alimentar esta enorme e crescente corrente do ócio, onde os subsidiados do nada fazem, mas muito têm, conseguiram transformar todas os dias de trabalho dos outros na sua maratona prolongada de permanentes noites de fim de semana, com toda a comunidade a apenas existir como seu pano de fundo, e fonte de subvenção do mais absoluto nihilismo social. Na outra extremidade da Cova da Moura, os filhos do embaixador do kebab agarraram no segurança e foram desfazer a cara dos frequentadores do "Koppos Bar", de Ponte de Sor, onde se baixam as calças, se faz picanha com os pés, e só há hematomas desfigurantes, com os carros, carros, carros...

Passamos agora dos carros para os aviões, sem aviso, e, dentro de cinco anos, lá estaremos nos foguetões. Numa velha rábula da Humanidade, haverá então os que têm e os que nada têm, e os que nada têm serão cada vez mais, e os que têm cada vez mais arrogantes e liquidadores. No fim, todos eles acabarão no terreno a exterminar-se uns aos outros, grande lição do Daesh para a História. Quanto a nós, pois, nós estaremos pelo meio, para cairmos, um a um, um após outro,  do primeiro até ao último, mercê do seu fogo cruzado.




(Quarteto do kebab, no "Arrebenta-SOL" (desativado), no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers", sempre soberbo e implacável)

A Foice e o Marcelo

$
0
0




Imagem do Kaos




Na passada sexta feira, a gasolina tinha aumentado 40 cêntimos num posto que não vem a ser chamado aqui para nada, mas na Margem Sul. Para mim, que ia no lugar do morto, ou, de quando em vez, no banco de trás, isto era muito, mas creio que para quem conduz ainda fosse mais. Aliás, a ser ainda mais preciso, como os aumentos têm sempre aquela vertente hensenberguiana da experiência e do experimentado, creio que estes mesmos 40 cêntimos de aumento deverão ter tido vários impactos e leituras, consoante e consoado o experimentador e o experimentado, o seu monóculo, e, sobretudo, o seu pendor político. Contudo, numa frase resumida, na passada sexta feira, a gasolina tinha sofrido, como dizia o defunto Vítor Gaspar, um colossal aumento, do qual só eu, distraído e muito bronzeado, terei completamente dado conta.

A coisa pode parecer banal, mas não é, já que nos lembra estar em 2016, ano fausto do centenário de uma das Relatividades, onde, abreviadamente, se diz que tudo depende do referencial e do observador. Acontece que, fosse tal aumento... bom, mais benevolamente, fosse um décimo de tal aumento a ter acontecido no referencial Passos Coelho, e teria imediatamente caído o carmo e a trindade. Como aconteceu na sexta, e o referencial já era a Geringonça, a coisa passou subtil e disfarçadamente nas divagações televisivas das bolsas de branqueamento do Futebol, como tudo o que de negativo está a acontecer também ultimamente tem passado.

Pode acontecer que o que escrevi para trás até seja mentira, ou um simples epifenómeno de uma bomba falida do Seixal, uma miragem, mas, como se sabe, a veracidade dos pretextos, como motivo para as perorações, é sempre indiferente, e eu vou perorar, sendo que o o tema são aqui os dois pesos e as duas medidas da formação da opinião pública, e do crivo da crítica, que sempre deveria presidir à isenção dos órgãos de comunicação social... ou, bom..., como eu hoje até estou parcialmente do contra, às tantas, nem sequer vou falar de nada disto, mas tão só do estado de coisas que conduziu a que estas hipóteses se pudessem agora aventar.

Como se sabe, ao contrário da Agustina e do Saramago, gosto bastante de Alexandre Dumas, e gosto bastante dele e também de uns quantos outros da genealogia da Capa e Espada ("Swashbuckler"), que me fazem sonhar com reconstruções de uma História imaginada, de preferência, ao gosto das minhas próprias fantasias. Ao contrário das estuchas do Saramago, do José Rodrigues dos Santos e quejandos, toda a gente leu os "Três Mosqueteiros", ou, pelo menos, sabe do que se trata, e sonhou um pouco lá por cima, mas também não é disso que eu venho aqui falar, já que o Dumas decerto era muito interessante, quando escreveu esses três, mas ainda mais interessante se iria tornar depois, quando escreveu os três seguintes, na forma dos "Vinte Anos Depois", e são esse vinte anos depois que centrarão esta reflexão.

Para quem ainda não percebeu o que é a "Geringonça", eu explico: a "Geringonça" é uma daquelas perigosas tentações históricas de refazer um período, baseado no tal pressuposto melancólico do isto poderia não ter sido assim, se aquilo tivesse acontecido assado, o que é sempre mentira, mas deixa sempre fazer sonhar aquelas gajas de cabelos salt & pepper e saias rodadas, que constituem a orla feminina das romarias do "Avante", genuína manifestação etnográfica do 13 de Maio do Partido Comunista Português.  Acontece que a "Geringonça" não passa de uma semienvergonhada maneira de dar corpo àquelas conversas e desabafos de café de umas certas classes de pendor intermédio e saudosismos "esquerdistas", que entendem que a história recente de Portugal poderia ter sido substancialmente outra, se os blocos das diferentes "esquerdas" se tivessem oportunamente unido, para dar corpo a sistemas parlamentares de alternância. Lá me desculparão a forma erudita, mas assim permite aos glosadores citarem logo o texto, já numa forma elaborada, sendo que a versão simples é a de que se os gajos já se tivessem entendido, esta merda não estava assim. Veio o António Costa, o Poucochinho Vermelho, ou o Poucochinho Monhé, e a nostalgia ganhou peito, pôs o soutien, e teve a coragem de sair à rua: o seu parto anunciado, como se sabe, veio logo na forma desafinada da "Geringonça".

Até aqui tudo bem, já que, do ponto de vista político, e esquecida a descarada golpada em que assentou, é uma experiência como qualquer outra. Para mim, democrata, malgré tout, preferia que a aventura tivesse sido explicada aos eleitores antes, e não depois, mas, como continuamos a ter uma das mais elevadas taxas de analfabetismo de toda a Europa, creio que a não ser assim não seria nunca, e assim foi, e assim se fez, na santa paz do senhor. Acontece que, ao não corresponder a nada, mas tão só à nostalgia de tentar recompor umas quantas fatias da história recente, a coisa também se tornou logo numa aventura de capa e espada, escrita ao gosto de um tipo conhecido pela intransigência, vaidade e meias águas de goês, o que também não seria nenhuma novidade, já que temos engolido longuíssimas sequências de primeiros ministros provindos de proverbiais sarjetas, e o resultado é, liminarmente, o que estamos forçados a viver, e sobre tal nos ficamos já por aqui. Em resumo, alguém se lembrou de ir buscar uns episódios pós abrilescos, agarrou nos protagonistas de então, caracterizou-os à a maneira do faz de conta de agora, e pô-los em cena, e, repito, nada de novo, não fosse o restante acontecido.

O restante é muito mais engraçado, já que, nestes acasos da Astronomia, enquanto no nadir se nadava assim, já no zénite as coisas piavam de uma forma similada, e só para os desatentos é que este permanente alvoroço e meiguice do Professor Marcelo, eleito capataz da Cauda da Europa também poderiam passar por programa, por que programa é coisa que ali não há, e assim vamos já ao capa e espada do Marcelo Rebelo de Sousa.

Toda a gente conhece o Marcelo Rebelo de Sousa, um vigarista, que vendeu toda a espécie de banha da cobra, naquele poleiro televisivo que lhe tinham arrendado, já não me lembro onde, mas só dos olhinhos deliciados da Judite de Sousa, para quem havia alguma diferença entre um doutorado e um simples contador de doutores, como o lunático que a andava a encornar, mas isso eram outras histórias e outras vidas, e fica para um dia em que eu tenha coisas mais importantes para dizer. Deste conhecimento universal do Marcelo derivou uma eleição de larga margem, na qual, como podem imaginar, não participei, como também não participei na do Sampaio da Nódoa nem de umas quantas outras nódoas que o andavam a rodear, mas também não é por aí por onde eu vou agora.

Acontece que o Marcelo, mal foi eleito, começou a desfolhar o capa e espada que trazia no bolso, e que não era mais do que um guião cheio de marcas e de bolor que dizia o seguinte, eu, Marcelo, venho aqui desempenhar um revivalismo de recomposição da História (os estalinistas chamavam-lhe "revisionismo"), onde tentarei provar aos basbaques que me elegeram, e sobretudo aos basbaques que não me elegeram, nem nunca me elegeriam, que, se não tivesse havido o 25 de abril, e a "primavera" marcelista tivesse continuado (até cair de podre), o nosso pequeno mundo poderia ter sido infinitamente melhor.

Não vou discutir isso aqui, já que é tema de um próximo texto, mas é fundamental que se perceba que o estalinista Marcelo Rebelo de Sousa está a encetar um metódico revisionismo dos anos da Abrilada, de modo a provar que o esteio do Ancien Régime, de onde saiu, é que era bom. O supreendente é que, do outro lado da barreira, o camarada social fascista, Jerónimo de Sousa, também está lançado no revisionismo desses mesmos anos em que as "esquerdas" nunca se entenderiam, e ambas as coisas vão agora de mão dada, num ato de espantação a quem alguém pôs o brilhante nome de "Geringonça", onde a geringonça não é aquilo a que puseram esse nome, mas sim esta milagrosa hipótese de ver ambos os programas delirantes em promiscua convivência.

Eu sei que o escrevi está um pouco para lá do extraordinário, mas,se pensarem um poucochinho monhé, acabarão por ver que tenho alguma razão, sendo que o que é extraordinário é que estas combinações, julgadas impossíveis do ponto de vista sociológico, político, e mais duramente, físico, se estão realmente a manter e a arrastar pelos meses e meses, com a cumplicidade de doçura e assombração dos órgãos de comunicação social, e decerto assim continuarão, até, por si, ou por ação de alguma inesperada bancarrota,  se estampem e afocinhem no chão. A explicação, creio, é que ambos os blocos estão a caminhar como se o vizinho do lado não existisse, o que é muito português, ou, numa versão ainda mais cínica, por que todos descobriram que a bebedeira de um até podia ser útil à bebedeira do outro, e dobraram na dose do álcool, deram a mão, e por ali continuaram.

Tecnicamente, isto conduz a zonas pantanosas de interpretação da realidade, já que na ótica romântica do poucochismo monhé as coisas não são tão más assim, posto estarem a acontecer neste período ímpar de revelação. A verdade é que está tudo na mesma, quando não está pior, e um sinónimo disto é sempre aquele terrível barómetro que entra em cena, de cada vez que desenterram a Leonor Beleza, que, no mínimo, devia ter um pouco de vergonha na cara. A Dívida Pública aumentada também não é uma realidade, mas uma interpretação egoísta e masoquista dos números. Os calamitosos fogos que consumiram metade da área ardida europeia já foram taxados de fenómenos naturais, e andou-se. Crê-se que estes fenómenos naturais sejam uma variante das tradicionais causas naturais, por sua vez, vizinhas próximas dos milagres da fé, e aqui mergulhamos no verdadeiro epicentro deste deslumbramento político, já que, quer a Foice, quer o Marcelo, acham que este tempo único só tem paralelo e procedência por um qualquer caráter divino, no caso do Marcelo, por identificação com o Vigário Francisco, pelo outro, uma por epifania napoleónica de tom goês, que permitiu que numa espécie de pokemon alargado, todas as insanáveis divisões das I, II, III e IV Internacionais subitamente se resolvessem numa simples noitada de coirato da "Festa do Avante". Como diz uma das Mortáguas, "este governo não é um governo de esquerda", e não é, este é um governo da Situação, e da Situação duplamente, pelo lado da Foice e também pelo lado do Marcelo. Acontece que a Situação não está no estado dos "Vinte Anos Depois", mas realmente numa senda caduca de Quarenta Anos Depois, barriga inchada, perna a arrastar e um olho com cataratas, um velho romance novo de cordel, a ser redigido a muitas mãos, por um bando de alucinados, que ainda não percebeu que a História não se corrige, e muito menos se corrige assim.

Em quarenta anos, o Mundo mudou muito. A Foice já se sabia que não tinha percebido; só faltava o Marcelo vir confirmar que também não. Dizem os pessimistas que, quando acordarem, todos cairão no chão, Eu sou ainda mais pessimista, e acho que não é no chão que eles vão cair, mas bem em cima das nossas cabeças...




(Quarteto do Avante, Marcelo, avante, no "Arrebenta-SOL" (desativado), no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers", opulento e nada revisionista, exceto em casos de necessidade extrema)

President Trump

$
0
0





Faço parte dos cidadãos do Mundo que têm observado a campanha americana com o sensor de tédio ligado ao máximo. Corrijo: faço parte dos cidadãos do Mundo cujo sensor de tédio há muito que discretamente me afastou dos desenvolvimentos da campanha presidencial americana. No outro dia, por desfastio, liguei a televisão e estava a passar uma gaja pausada, cheia de comprimidos. Rapidamente compreendi que ela se estava a candidatar contra um outro, bastante descomprimido e cheio de gajas, e que aquilo era o estado presente da coisa americana. Nada de estranhar, como nada é de estranhar, depois de Obama. Ela falava no mesmo tom com que as jeovás apocalipsam o fim próximo do Mundo, e ele no tom de quem acredita que é mesmo o Fim do Mundo, o que, da parte dele, é uma forma de imodéstia a mais.

A realidade é que no estado em que o Mundo está dá muito trabalho acabar com ele, ele, Mundo, e não Trump, e, depois de um pouco de observação, percebi que a senhora não tinha mais programa do que deixar que o Mundo não acabasse já, e o tipo, do que andar assustar a senhora com o trabalho que estava a conseguir dar a ela. Na verdade, numa termodinâmica de economias e consumos, ele gasta muito menos do que ela, já que, de cada vez que ladra, logo ela acorre a fechar todas as portas e janelas, o que é um colossal dispêndio de energia, para um simples ladrar. A coisa, ao fim de semanas, converteu-se num mero patético espetáculo de bancada, em que um apenas toureia os receios do outro, para que, por detrás do boneco da outra, logo venha uma multidão imensa compor o boneco, para se fingir que ela não está completamente borrada de medo, com o medo do boneco dele.

Acontece que, na nossa sociedade teresoaguilhermada, o boneco Trump até tem graça, e a graça do boneco Clinton é uma perfeita desgraça. E onde nada disto tem graça é que não estamos num reality-show, mas durante o processo de eleição para um dos cargos mais poderosos da Aldeia Global.

Alguns céticos comparam este processo penoso à fase catalética da Academia Sueca, e, num raciocínio de transitividade elementar, dar a Casa Branca ao Trump acaba por estar para o Donald, como o Nobel recentemente esteve para o Dylan, ou seja, o apertar de mão de duas formas muito próprias do vazio. O problema desta forma de analogias, é que, estando o Donald para o Dylan, também o Saramago teria estado para a Clinton, e isto começa a aproximar-se muito da realidade, já que radiografa a contemporaneidade americana, do mesmo modo que, ao longo dos tempos, o Nobel da Literatura nos foi revelando o relatório clínico da sua longa agonia.

Há muitos que preferiram lançar o Dylan no anedotário, mas o Dylan é uma coisa séria, aliás, ele é rosto de um estado de coisas muito sérias, tal como o Trump é a cara chapada de um certa seriedade do estado atual das coisas. Tudo o resto é axiomático, já que a morte da Literatura conveio muito bem à morte do Nobel da Literatura, depois de um processo em que o próprio Nobel procurou adiar a sua morte, aliando-se a alguns escritores, para depois se ter o inverso, com alguns escritores nado-mortos a procurarem no Nobel um impossível fôlego para a sua triste agonia, para chegarmos ao presente estado das coisas, em que este duplo velório mais não pode ser adiado.

Acontece que, como não sou pessimista, e a análise da coisa está mesmo num impasse, é importante que se lhe traga uma grelha mínima de leitura, e retomamos, ninguém duvida do estado moribundo da Literatura e do estado ainda mais moribundo do Nobel da dita cuja, e, não duvidando deste estado de coisas, era urgente que algo se fizesse, e assim se fez, atirando-se o prémio numa direção imprevista. A Academia fez o seu coming-out, e deu um salto kitsch, numa direção francamente hyppie. Mais friamente, e como caminhamos para uma Nova Idade Média, cheia de Webs Summits, onde a narrativa dos artefactos traz muito mais imaginação do que todos os milénios da Literatura -- sobretudo quando nessa literatura, como o Saramago, nenhum milénio estava guardado para qualquer poesia ou imaginação, -- a Academia resolveu atribuir o prémio a um bardo, relembrando que, nos anos da outra Idade Média, também a voz literária gravitava entre lugares da luz, só mantida pela voz dos trovadores, e aqui regressamos ao tema central, em debate nestas presidenciais, o próximo regresso à nova Idade Média.

Para os apologistas de que os políticos mais não são do que fantoches nas mãos dos interesses que os colocam lá, lanço agora o desafio de acreditarem piamente nas suas palavras, e olharem com os próprios olhos da sua perspetiva, na direção de Trump e da Senhora Clinton, já que, numa forma aguda, eles não representam mais do que o estado previsível dessa infeção. Para os seguidores de debates -- eu continuo a preferir os combates tradicionais de gladiadores --, esquecidos de que aquilo mais não é do que uma forma não muito sofisticada de entretimento, deve ter sido interessante perceber as jigajogas que estavam por detrás de um e de outro, sendo talvez a maior curiosidade destes eventos que, num puro desespero de causa, a viuvinha Clinton tenha desistido de defender qualquer ideia, e acabado a dizer que mais não era, afinal, do que o bastião final de defesa do atual estado de coisas.

Curiosamente, esse é o maior capital do Trump, uma personagem que se pensaria impossível, antes de termos assistido ao Putin, ao Barroso, ao Erdogan, ao Kim jong e a uns quantos outros que agora se instalaram pelos vários pelouros da contemporaneidade, já que, de cada vez que a outra se arroga vir, para defender todas as coisas tal qual como estão, imediatamente engrossam as fileiras dos cada vez mais prejudicados pelo establishment, e são muitos, e todos frutos das muitas facetas de tal estado insuportável de coisas. Trump é o Ronald Reagan possível de hoje.

Atrás, enganei-vos, quando vos disse que a Literatura estava morta. Não está, apenas mudou de palco, e escreve e continua a escrever, como eu acabei de fazer, e durante mil anos ela fez, rabiscando glosas e escólios na margem dos pergaminhos. Vocês caíram no erro e leram, validando a minha tese, e assim impugnando dylans, nobeles e saramagos, e assim vamos continuar. Creio que do desastre Clinton/Trump igualmente emerge uma leitura fria, que é a da agonia da Política. Depois de terça-feira, é provável que também regresse à margem dos pergaminhos, em glosas e escólios, queira lá isto dizer o que quer que seja. 


É óbvio que os perfis radicais podem ser perigosos, e, sem chegar a perorar, como certas cassandras, que é da massa dos Trumps que sempre se fizeram os hitlers, a verdade é que sempre foram as massas das clintons a permitir, no limite, que emergissem cada vez mais trumps, e eles são hoje, como se sabe, mais do que as mães. Está por comprovar que da massa das clintons emerjam quaisquer hitlers, mas não podemos dizer que dessa água não beberemos. Na verdade, as bolsas não têm hoje qualquer paciência para hitlers, e os catalisadores são-lhes indiferentes, desde que não colidam com a lógica dos mercados: quem se lhes oponha surge e evapora-se em dois dias, como os palermas do "Brexit", e este é o verdadeiro prognóstico da Era Trump, uma coisa que aí vem, independentemente do Trump. Depois de terça feira, iremos ver como é fraco o ladrar de qualquer político, perante as vozes de fundo das correntes que os mandataram, ou, mais frio do que isto, como essas correntes já podem prescindir do ladrar dos políticos para fazerem ouvir diretamente as suas vozes.



Aparentemente, tudo indica que o paradigma pós industrial está a querer mostrar, em direto, que já não precisa mais de atores públicos para se fazer representar social e politicamente, e isto é um ato profundamente político, já que terça irão eleger um balão vazio, perante uma plateia que está no mesmo estado do "À espera dos Bárbaros", do Kavafys, que nunca teve o Nobel. A isto chama-se "Era Trump", cuja maior encenação cenográfica, e preparação, tem sido, com bastante sucesso, o Daesh dos subúrbios.



O final deste texto é técnico. O sistema eleitoral americano -- que, no fundo, irá aproveitar esta oportunidade para mostrar que, contrariando tudo o que escrevi atrás, felizmente está vivo, mas na peculiar maneira -- assenta numa sólida topologia de alternância. A grande lógica do seu modelo matemático é uma invariância global dos ciclos de sístole/diástase, o que, trazido para a linguagem política, fala de uma estabilidade do modelo de sucessão entre períodos democratas e períodos republicanos. Por outras palavras, é o ciclo de alternância que é imutável, e são apenas os seus protagonistas que vão variando, assegurando sempre o mesmo programa eleitoral, petróleo, fabrico de armas e status quo. Os eleitores limitam-se a validar vagamente um xadrez de colégios eleitorais, e a isto se chama por lá democracia. A última demonstração da frieza deste sistema revelou-se quando Bush, a quem tinha sido incumbida a Missão Nine Eleven, teve mesmo de vencer Al Gore, independentemente da contagem local dos votos. Se é certo que este mesmo modelo revela algumas exceções, elas estão sempre associadas a períodos fortemente atípicos, que é o que aqui nos interessa, já que esta eleição, em novembro de 2016, apenas nos vai dar o sinal de estarmos perante um ciclo de estagnação, ou de necessitarmos mesmo de uma emergência de rotura, capaz de inverter a lógica do ciclo. Deste modo, creio que nos devemos serenamente concentrar em apenas três questões: "processa-se esta eleição num período de tal modo crítico que o ciclo de alternância se veja coagido a alterar-se momentaneamente?"; "É a Senadora Clinton de tal modo extraordinária que permita uma extensão anómala do ciclo democrata?" e "É Donald Trump realmente tão mau que mereça destruir a própria lógica profunda da alternância?".

Se respondeu uma vez "sim" a pelo menos uma destas questões, eu, e todos nós, já ficamos imediatamente a saber onde o meu caro leito iria votar. Pela minha parte, e sem querer ser pessimista, prefiro continuar a responder "não" às três questões, sendo certo que também não voto, nem quereria, num cenário destes. Certo é que todos nós, na próxima terça feira, nos iremos espantar com mais uma irónica solução da História.

Lá estaremos para ver, companheiros :-)




Quarteto da Era Trump, no adormecido "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e no "The Braganza Mothers"

Soares foi fixe

$
0
0







Há um arranque, no Segundo Concerto, em que Beethoven desafia a Técnica pela Estética, e lança o tema do solo com uma nota tirada na tecla extrema do teclado, para mostrar que estava a desbravar ali as fronteiras e já precisava de um piano bem mais extenso. No fundo, pouco se esperou, até que Jean Henri Pape, lançasse, em 1844, o seu piano de oito oitavas. Tudo o resto foram Liszt e exercícios de bravura, e, ao falar-se de Liszt e exercícios de bravura, é inevitável que agora caiamos no tema e no homem do dia, Mário Soares, que hoje finalmente passou à eternidade.

Na verdade, o teclado dos epítetos de Mário Soares em muito se estende para lá de todas as oitavas do piano. Talvez nenhum político em Portugal tenha sido percutido com tantas das palavras do Amor e do Ódio, e isso é já uma das maiores formas de grandeza. Dizem que tinha uma forte costela de ignaro, e encolhia os ombros perante todas as provocações, o que é um modo profundamente político de ensinar a tolerância aos outros, e ensinou, pelo lado da bonomia e do bom humor. Para quem se tenha esquecido, os comunistas foram-lhe, e bem, aos cornos, na Marinha Grande, e ele nem sequer recuou, e nem sequer se encolheu, e essa foi uma das imagens que passou, e em grande, para a sua lenda.

Também corre uma certa unanimidade na fixação do seu papel na História, onde o pintam com a ambiguidade da trajetória dos icebergue, por que muito do feito ter sido invisível, e muito do que dele ficou visível talvez não passasse, afinal, de uma simples aparência de farsa, o que, no entanto, já fará parte do desbravar do futuro, no qual ele agora apenas acabou de embarcar.

Mário Soares é uma figura única do nosso paupérrimo cenário político, e um contorno incontornável dos nossos traumas culturais. Somos o país em que vingava a Segunda Escolástica, quando o Cartesianismo já invadia toda a Europa. Mais grave do que isso, foi, presentemente ainda continuarmos a achar que, no fundo, a Segunda Escolástica até era melhor, só teve "foi azar", e lá tivemos nós de papar o Cartesianismo. Esse é o mesmo Portugal que, até hoje, ainda persegue João Domingos Bontempo, só por que ele foi liberal, e por que ser liberal é um crime continuado, num país permanentemente reacionário. Mário Soares fez o mesmo, ou afim, e decidiu apontar o dedo às rançosas mazelas do nosso imaginário, pois não queria nem Igreja, nem Miguelistas, nem sucessores do Tio Caetano, e disse-o nas suas célebres três palavras, Laico, Republicano e Socialista, o que lhe trouxe uma infindável panóplia de ódios e dos afetos, embora a sua história comece muito antes, e por isso convém que se revisite este homem sobre o qual, na verdade, ainda hoje se sabe pouco.

Num essencial sobre Soares, nem sequer sei se seria interessante o Soares de antes do 25 de abril, mas isso sou eu, iconoclasta, a tentar enfiar uma biografia inteira pelo funil da simplificação. Soares vencia sempre, mesmo quando não ganhava. Há aqueles que adoram o Pomar, só por que que esteve na cela ao lado do Marocas, mas isso de nada serviu ao Marocas, e igualmente não conseguiu tornar o Pomar num pintor de renome mundial, por mais que muitos o empurrassem e tentassem. Para mim, também aqui basta o brilhante retrato do Bochechas da Mãozinha, uma das obras mais conseguidas da retratística presidencial, mas voltemos já ao essencial, e nem sequer vou olhar para esse Partido Socialista, fundado em 1973, na Alemanha, só o Diabo saberá, já então, posto ao serviço de quem nunca se saberá.

O Soares essencial é o de 1974, 75 e 76. Creio que a enorme unanimidade vai para as críticas sobre os procedimentos relativamente às Províncias Ultramarinas, mas creio que convém, também, fixar o guião desses tempos. O Sr. Salazar, um provinciano retrógrado, ao contrário de todas as potências europeias, com longas tradições de aculturação, exportação de procedimentos e normas imperiais, só se lembrou de começar a colonizar os seus quintais ultramarinos no momento em que a sinistra lógica mundial já tinha decidido que os iria depredar, e arrancar do marasmo lusitano, na forma de empenhados "movimentos de libertação", e nem vamos falar disso, para não nos indispormos já com os leitores. Na verdade, a "colonização" portuguesa foi uma diáspora tardia de muitas das manchas de pobreza, dos filhos segundos, e dos aventureiros que por cá pululavam, e assim puderam ir para terras extensas, para por lá fazer o que por cá não podiam, nem deviam. Na cabeça e no coração levavam, não a Fé e o Império, como muito se apregoava, mas o pior da natureza portuguesa, e até da natureza humana, com a possibilidade de fazer, com consentimento, ao "preto" de lá o que o "preto" de cá não permitia nem gostava. Quando chegou a Revolução, havia por lá uma "colonização" recente e muito postiça, e muito espalhada por toda a parte, que era um terrível estorvo para aquela comédia que se avizinhava.

Há por aí uma narrativa que igualmente põe na boca do defunto Soares a solução final, que seria "atirar com todos os colonizadores ao mar". Do Mário nada me espanta, como também não me espanta o célebre episódio de ter pisoteado a bandeira nacional, em Londres, já que na melhor nódoa cai o pano. Pessoalmente, acho que o Soares colérico seria capaz disso e até de muito mais, na primeira parte, por estar a espezinhar um símbolo que, de tão vilipendiado, se despojara do seu caráter nacional, para se transformar no triste pano bicolor de serviço de uma infindável ditadura; na segunda, por ter simplificadoramente volvido grandes massas humanas em meros agentes ao serviço de um regime que estava em agonia, e, como hoje se diz, os tinha tornado em escudos humanos de uma ideologia. Deste ponto de vista, toda a colonização salazarista não passava de uma tortuosa, cobarde e mal assumida utilização de portugueses num território de guerra aberta, no cumprimento da velha máxima, muito nacional, de, depois da casa arrombada, trancas à porta. 

É certo que estou a acompanhar a lógica do discurso, e não a lógica do que penso, já que ambos os atos e palavras do Soares seriam sempre indesculpáveis, mas eu apenas os reposicionei historicamente, e assim vamos voltar à descolonização, ou retirada apressada de nacionais, cobardemente colocados, fora de tempo e de oportunidade, num teatro de guerra, onde o desastre ou o massacre apenas estavam a ser adiados. Chegado 1975, a coisa agudizou-se, e é aqui que Soares se revela ímpar e crucial. Para os esquecidos, 1975, num mundo afundado na miséria obâmica de Jimmy Carter, correspondeu ao apogeu absoluto do espetro soviético. Um gesto mal medido, e Portugal, como a Etiópia, o Sudeste Asiático e todos os cenários de fronteira poderia ter mudado de hemisfério politico, aliás, a par com a Espanha e a Grécia.

Não sei se esta conversa teve lugar, mas Soares, tal como Churchill em Ialta, quando estava a atirar meia Europa para as trevas da Cortina de Ferro, e, subitamente, levantou o dedo e disse, "não, a Grécia... não", por que a Grécia também estava incluída no pacote das roménias, hungrias e bulgárias, para ir parar às mãos do criminoso Estaline, Soares, digo, deverá ter tido uma visão Churchill, e, homem de rasgos abrangentes, e de finíssima sensibilidade para o devir da História, deverá ter tido, por um momento, a balança dos tempos defronte dos olhos. A decisão todos a conhecem: ou a cabeça continental de um império a ficar a salvo da tormenta, com o custo de todas as suas possessões mundiais, ou agarrar-se às suas possessões mundiais, e naufragar com elas, numa qualquer decisão e destino imprevistos.

Sei que o que escrevi é horrível, mas não sei se estará tão longe da verdade quanto isso. Um cenário, muito semelhante, deverá ter vivido outro grande estadista, Ataturk, quando se tratou de salvar os estilhaços do colapso do Império Otomano. No fim, safou Istambul, e umas tiras europeias, até Andrinopla. Se também a culpa aí não foi de Ataturk, só a História dirá qual a quantidade e qualidade da culpa de Soares.

Como diria Epicteto, há os amigos de Soares e os inimigos de Soares, sendo que os primeiros só deus saberá se não foram mais nefastos do que os segundos. O homem que hoje morreu terá levado consigo os segredos das conversas com Carlucci, um pedófilo mundial, cujos apetites, in extremis, conseguiram, para Portugal, uma estranha proteção americana. Muito se discute qual o preço desse escudo, mas certamente  o seu preço foi uma hábil conquista de Soares, e creio que lhe devemos estar gratos.

O Soares, de 76, foi uma mera consequência do Soares dos dois anos anteriores. Para os de curta memória, Portugal era então um estado deprimido e vexado na comunidade internacional. Passava, semana após semana, por ridículos semelhantes aos dos que hoje se riem da ditadura cubana, ou norte coreana: um quintal anquilosado, fora do tempo, a tentar resistir a coisas sem sentido, e gerido por um bando de abutres vestidos de negro. Coube ao mal preparado Soares criar um figurino internacional, e conseguiu-o magistralmente: era um tipo de bochechas, bem humorado, que falava mal línguas, mas conhecia todos os dialetos e aldrabices internacionais. Internamente, traçou, para sempre, o perfil ideal do Presidente da República. Externamente, e aproveitando a maré das ternuras e complacências para com um estado estilhaçado por uma revolução de excessos e insuficiências, deu-lhe uma cara moderna e uma velocidade contemporâneas: dez anos depois, já tinha conseguido que fizéssemos parte do mosaico europeu, se bem que em troca da perda do mosaico ultramarino, e nem vou discutir a pertinência ou a possibilidade de outro rumo que este, já que não sou historiador, mas apenas intelectual atento.

Para quem tenha dúvidas sobre a grandeza de Soares, deveremos sempre contrapor-lhe a menoridade de Cavaco, pietista, provinciano e reacionário. Cavaco foi a continuidade de muitos dos 900 anos de costas voltadas para o progresso, que Soares, um verdadeiro social democrata, nunca representou, e todo o país ingrato se revelou, quando depois permitiu, em refluxo, que durante dez anos o Saloio de Boliqueime inenarravelmente vexasse a Presidência. Enquanto o Clã Soares multiplicava os seus golpes e negócios, por toda a parte, os amigos de Cavaco iam traçando os seus futuros perfis de vigaristas, ladrões, assassinos e homicidas involuntários, e estou a falar de Dias Loureiro, Duarte Lima, Leonor Beleza, Mira Amaral e Ferreira do Amaral, entre outros tantos. Se um apontava os golpes para o Mundo, o outro limitava-se a apontá-los para as velhas paredes do seu quintal, e o resultado disso tudo foi o presente estado de abandono e pobreza em que vegetamos e continuamos a estar.

Na verdade, se excetuarmos Pessoa, Soares foi o maior português do séc. XX, e apenas refiro esse século, por que foi nesse século que nasci e não em nenhum qualquer século outro. Morreu o Pai da Democracia Portuguesa. Depois de Soares, toda a Política será menor.

Para o fim, os últimos desafios decerto foram ainda interessantes: é já o Soares do séc. XXI que se opôs a outro espetro do ranço e do clubismo, Manuel Alegre, cuja vaidade e estupidez nos atirou para dez perversos anos do Neocavaquismo. Antepassado de "The Braganza Mothers", e causa direta da sua existência, foi "The Great Portuguese Disaster", blogue de campanha anticavaquista e assumidamente soarista. Não estou arrependido, e aqui fica a memória, no dia da partida para a Eternidade do maior estadista português do nosso tempo, e aqui voltamos ao início, já que este é apenas um pequeno esboço de um texto que poderia ser infinito. Como Mário Soares, nenhum político, em Portugal, rimou tanto com todas as palavras do Amor e do Ódio. De todas elas, vou agora relembrar apenas duas, essenciais, de que ele foi nosso professor, e das quais lhe teremos de ficar eternamente devedores, Liberdade e Democracia. Creio que tudo o resto foram meros trocos da Necessidade.




(Trio de grande despedida soarista, ó, Bochechas, está na hora, vai-te embora!..., no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")

Viewing all 637 articles
Browse latest View live